por Luciana Romagnolli
*Artigo originalmente publicado no portal Primeiro Sinal, do Galpão Cine Horto, em novembro/2012.
por Luciana Romagnolli
*Artigo originalmente publicado no portal Primeiro Sinal, do Galpão Cine Horto, em novembro/2012.
“Em Breve nos Cinemas”, do Teatro de Breque, está indicado a melhor espetáculo. |
Em Curitiba, foram divulgados os indicados ao Troféu Gralha Azul, o principal prêmio do teatro paranaense. São:
ESPETÁCULO
“O MALEFÍCIO DA MARIPOSA ” da Cia Ave Lola Espaço de Criação
“SATYRICON DELÍRIO” do Grupo Delírio Cia de Teatro
“PORQUE NÃO ESTOU ONDE VOCÊ ESTÁ” da Cia Súbita
“KAFKA – A VIGÍLIA” do Grupo Delírio Cia de Teatro
“EM BREVE NOS CINEMAS” da Cia Teatro de Breque
ESPETÁCULO PARA CRIANÇAS
“DE VOLTA AO COMEÇO” da Cia Figurino e Cena Produções Artísticas
“OS SALTIMBANCOS” da Cia Regina Vogue
DIREÇÃO ESPETÁCULO PARA CRIANÇAS
PAULO VINÍCIUS por “ De Volta ao Começo”
MAURÍCIO VOGUE por “Os Saltimbancos”
DIREÇÃO
EDSON BUENO por “Satyricon Delírio”
ANA ROSA TEZZA por “ O Malefício da Mariposa”
MAÍRA LOUR por “Porque Não Estou Onde Você Está”
EDSON BUENO por “Kafka – A Vigília”
DIMIS JEAN SORES por “ Peça Ruim”
TEXTO ORIGINAL
OLGA NENEVÊ por “ As Tramoias de José na Cidade Labiríntica”
DIMIS JEAN SORES por “ Peça Ruim”
ATOR
VAL SALLES por “O Malefício da Mariposa”
LEANDRO DANIEL COLOMBO por “ A Meia Noite Levarei Teu Cadáver”
TIAGO LUZ por “Satyricon Delírio”
CLEYDSON NASCIMENTO por “Em Breve Nos Cinemas”
LUIZ BERTAZZO por “Peça Ruim”
ATRIZ
GIOVANA DE LIZ por “Os Saltimbancos”
MARIANA RIBEIRO por “ Peça Ruim”
ALESSANDRA FLORES por “O Malefício da Mariposa”
JANINE DE CAMPOS por “ O Malefício da Mariposa”
JANAINA MATTER por “Porque Não Estou Onde Você Está”
ATOR COADJUVANTE
MAURÍCIO VOGUE por “Satyricon Delírio”
JEFF BASTOS por “Peça Ruim”
EVANDRO SANTIAGO por “Satyricon Delírio”
TIAGO LUZ por “As Aventuras de Pinóquio”
SÁVIO MALHEIROS por “Peça Ruim”
ATRIZ COADJUVANTE
HELENA PORTELA por “ Porque Não Estou Onde Você Está”
REGINA VOGUE por “Satyricon Delírio”
SIMONE MAGALHÃES por “As Aventuras de Pinóquio”
VIDA SANTOS por “Satyricon Delírio”
PATRÍCIA CIPRIANO por “Peça Ruim”
CENÁRIO
FERNANDO MARÉS por “ Em Breve Nos Cinemas“
ENÉAS LOUR por “Porque Não Estou Onde Você Está”
PAULO VINÍCIUS por “A Meia Noite Levarei Teu Cadáver”
EDUARDO GIACOMINI por “ As Tramoias de José na Cidade Labiríntica”
GABRIEL GALLARZA/MARIA GAISSLER por “ Buraco da Fechadura”
FIGURINO
PAULO VINÍCIUS por “ De Volta ao Começo”
CRISTINE CONDE por “O Malefício da Mariposa”
ÁLDICE LOPES por “ Satyricon Delírio”
PAULO VINÍCIUS por “As Aventuras de Pinóquio”
CRISTINE CONDE por “ Porque Não Estou Onde Você Está”
COMPOSIÇÃO MUSICAL
RAPHAEL MORAES por “ Satyricon Delírio”
LUIZ SADAITI por “ De Volta Ao Começo”
EDITH DE CAMARGO por “Porque Não Estou Onde Você Está”
SÉRGIO JUSTEN por “As Aventuras de Pinóquio”
SONOPLASTIA
ANA ROSA TEZZA por “O Malefício da Mariposa”
EDITH DE CAMARGO por “As Tramoias de José na Cidade Labiríntica”
SÉRGIO JUSTEN por “ Os Saltimbancos”
ILUMINAÇÃO
BETO BRUEL por “Porque Não Estou Onde Você Está”
RODRIGO ZIOLKOWSKI por “Nada a Dizer”
LUCAS AMADO por “As Tramoias de José Na Cidade Labiríntica”
BETO BRUEL por “Satyricon Delírio”
RODRIGO ZIOLKOWSKI por “ O Malefício da Mariposa”
“La Matanza” se utiliza de linguagens diversas, entre elas o vídeo (Foto Esquyna Latina/Divulgação)
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Saga de um retirante até o colapso de sua identidade na cidade grande é mote da montagem (Foto de Marco Aurélio Prates)
(Foto de Juliana Palhares)
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Por Soraya Belusi (*)
por Luciana Romagnolli
Assis Benevenuto lê “Get Out” e Marina Viana, Marina Arthuzzi e Mariana Blanco leem “Silvia e os Outsiders” no segundo encontro da Janela de Dramaturgia. Foto de Filipe Costa Silva. |
Por Soraya Belusi
Exatamente como as coisas deveriam ser: um cenário enigmático, uma bela composição pelo espaço, figurinos bem harmonizados cromaticamente, uma dramaturgia fragmentada entrecortada por situações de humor e elementos fantásticos, como a presença ausente de um camelo sem corcunda. Todos os elementos aparentemente “corretos” confluem para um grande resultado? Assim seria se as coisas fossem como deveriam ser, mas, não, como elas realmente são. É a partir do próprio argumento do espetáculo “Pessoas ou Coisas Podem Mudar o Mundo, mas Hoje Nada Aconteceu”, da Cia. dos Aflitos, que busquei dialogar com as escolhas realizadas pelos criadores envolvidos nas questões que me parecem mais problematizadas pela montagem, como a relação com o espectador, a quebra da ilusão teatral, a construção de uma dramaturgia própria, organizada de maneira fragmentada, utilizando-se como matéria-prima os relatos pessoais dos atores.
Ao longo dos 60 minutos cronometrados para os alarmes soarem, o espetáculo parece carecer de uma seqüência de bons achados (como a imagem das quedas, a linguagem metafórica e circular, entre outros pontos) que, ao não serem explorados de maneira a ganharem força no decorrer da cena, tornam-se perdidos no tempo e no espaço. Um desses elementos pode ser notado logo na primeira cena. Ainda do lado de fora do teatro, o público é surpreendido por um ator/personagem que pede que escrevam cartas (a serem usadas posteriormente na encenação) com respostas para a seguinte pergunta: ‘como as coisas deveriam ser?’. Em seguida, surge um outro ator/personagem sugerindo que igualemos os horários dos nossos relógios e, metaforicamente, ‘sintonizemos nossos tempos’.
A questão é que, embora sejam muito fortes poeticamente, nenhum desses dois elementos (apenas título de exemplo) é reapropriado pela montagem de forma a justificar a relevância que lhe és dada anteriormente. As cartas viram frases soltas e quase inaudíveis ao fim da peça, apenas um ‘achado’ para encerrar o trabalho. O efeito de realidade com o pedido de a plateia manter ligados seus dispositivos eletrônicos e programar o despertador também não agrega camadas simbólicas ao espetáculo da maneira como foi utilizado (sem contar que não funcionou, já que os despertadores parecem não terem tocado sincronizadamente).
Embora o elemento tempo esteja presente o tempo inteiro (seja nos relógios do cenário, no relógio de bolso do ser imaginário, no relógio que marca o tempo na sonoplastia), esse peso não se faz sentir na cena e na plateia. A proposta cíclica da dramaturgia enfatiza essa questão temporal, mas não dá conta de torna-la presente na cena e não apenas ilustrada.
Este trabalho da Cia. dos Aflitos parece ser descendente direto de uma renovação no fazer dos grupos de teatro, influenciados pelo processo colaborativo e pela atuação de um ator-criador, trazendo consigo as potências e as limitações impregnadas a esse ‘modus operandi’ (como bem lembrado pelo professor Fernando Mencarelli em sua fala analítica). Os depoimentos pessoais dos atores não parecem dar conta da dimensão poética e complexa que a dramaturgia pretende alcançar. O invólucro parece dizer muito e, as entrelinhas parecem esconder mistérios, as arestas poderiam ser possibilidades de diálogo e interpretação do próprio espectador. Mas, no fim, os elementos parecem ter sido escolhidos para que o espetáculo fosse como deveria ser (em sua forma estética), e, não, pela real simbologia que carregam ao serem articulados lado a lado. A dramaturgia parece querer trabalhar em distintas camadas de diálogo com a plateia e com a história, no plano do imaginário (com a presença de uma espécie de ‘guardião do tempo’, da memória (com as imagens e indagações do que se passou), do presente teatral (na quebra com a ilusão e no contato direto com o espectador). Mas não alcança o objetivo de articula-los de forma a potencializar cada uma dessas possibilidades em cena.
A situação resumida na sinopse do espetáculo (a relação entre o casal e uma filha e a dificuldade de lidar com o tempo no que tange à necessidade da mudança) não se torna problematizada, tornando o espetáculo um exercício estético potente, mas ainda carente de uma maior elaboração dramatúrgica.
Por Soraya Belusi
“Até que o Teto Desabe” apresenta dois personagens em uma situação-limite, que se vêem trancados dentro de um cofre de banco, encruzilhados pela chegada da polícia ou uma eminente desabamento. Este encontro de dois seres em total momento de desapego de suas máscaras (sociais e psicológicas) serve de pretexto para que o texto de Carlos Renatto aponte por diversos temas como o fracasso das relações humanas, medo, morte, violência. O argumento do espetáculo é muito forte e bem delineado, mas sua execução comete deslizes no percurso.
Embora a dramaturgia apresente uma série de potencialidades, estas parecem se dissolver ao longo da encenação. O humor, por exemplo, arma que pode ser usada de maneira cortante para que o indivíduo reflita sobre si mesmo e suas limitações, torna-se banalizado justamente por sua hipervalorização. Imagens potentes (como um mundo prestes a desabar sobre nossas cabeças ou o fato de os personagens morrerem ‘esmagados pelo capitalismo’) diluem-se em meio a outras tiradas que apenas contribuem para o riso fácil do público, diminuindo assim o seu efeito de reflexão. Que o diga o texto do mineiro José Vicente, montado pela primeira vez em 1969, por uma trinca de grandes atores (Rubens Corrêa, Ivan de Albuquerque e Fauzi Arap), e, mais recentemente, revisto em projeto paralelo dos atores do Oficina de Zé Celso Martinez.
Cito a obra de Zé Vicente por uma série de razões: pela proximidade temática e da situação cênica e para servir de referência futura para os criadores envolvidos, artistas ainda (e constante e eternamente) em formação. Em “O Assalto”, escrito no auge da ditadura, Zé Vicente faz uma espécie de “acerto de contas” com sua própria visão de Deus, e “escancarava as conseqüências da devoção cega a um deus-mercado que a tudo rege nos dias que correm”, como afirma o crítico Valmir Santos quando da remontagem da peça em 2004. O texto tem como um de seus elementos sublimes a potência poética daquilo que não podia ser dito, mas que estava o tempo inteiro presente no subtexto, no que se vê sem se mostrar. “Revisitada após uma série de montagens, no segundo semestre de 1969, que obrigaram a crítica a rever seus critérios, a peça não perdeu nada da beleza e do impacto primitivos. Ela continua de pé com a sua intratabilidade, a aspereza de um estilo literário que se compraz nos desvãos e nas sondagens incômodas – essa violência, tão típica de hoje, que explode em rebeldia existencial, não afeiçoada a nenhuma disciplina, após a compressão de todos os condicionamentos sociais”, descreveu o crítico Sábato Magaldi sobre “O Assalto”, em 1970, no “Jornal da Tarde”.
Na montagem dos alunos TU, Os atores se relacionam com os personagens de forma a executa-los muito próximos de suas próprias características cotidianas, configurando um pseudonaturalismo que não contribui para a potencialidade da cena. Uma situação-limite (a aproximação da morte ou da cadeia) gera a presença de uma tensão que precisa reverberar no espaço, na luz, na paisagem sonora, no corpo dos atores/personagens; falta o tônus necessário, carece de um estado, de uma presença cênica para que esta ficção se concretize no espaço entre o palco e a plateia. Na condução da montagem, esses elementos tendem a aparecer muito mais na descrição que na ação. O público tem esses elementos dados pelas palavras, pelo que os personagens dizem, e não pelo que fazem (mostram, apresentam).
Esse jogo de entra-e-sai (da ação dentro do cofre para os comentários diretos com a plateia), como que um recurso para romper a ilusão teatral, desfavorece a ação cênica, dificultando ainda mais a construção da situação que se pretende estabelecer cenicamente. Além disso, os momentos de aparte parecem apenas sublinhar questões que já estavam mais que explicadas na cena, tornando-se, assim, tanto quanto ilustrativas apenas.
Os personagens e seus contrastes aparecem sem desenhos concretos (dramatúrgico, físico e cênico), minimizando o impacto deste encontro improvável entre dois universos díspares: o do homem que nada tem a perder e o do menino filho de banqueiro que sempre teve tudo e pôs tudo a perder.