- por Guilherme Diniz –
[Foto de capa da postagem: Vida, estou comendo você. Da série “Afrescos-Monumentos” de Yhuri Cruz (Rio de Janeiro, 2019). Em “Pretofagia: uma exposição-cena”, de Yhuri Cruz].
A minha relação com a crítica começa a se desenhar efetivamente nos idos de 2014. Na altura, eu estava em meu segundo período do curso de graduação em Teatro pela UFMG. Para o curioso calouro, as diversas facetas e ofícios abarcados pela área teatral suscitavam encantamento, razão pela qual não hesitei em participar de um Ateliê de crítica e reflexão teatral, ministrado por Luciana Romagnolli. A instigante e tensa experiência já me possibilitou pensar a crítica como exercício do olhar, do pensamento e da imaginação, em que o diálogo vivo com a cena pressupõe não apenas estudo profundo, mas escuta e disponibilidade para afetar-se. De lá pra cá, muitas coisas se transformaram (no país, na arte, em mim, etc.) e as interlocuções que estabeleço com a crítica teatral estão repletas de idas e vindas, aproximações e distanciamentos, reformulações e expansões. Crítica é processo.
Antes de integrar definitivamente o Horizonte da Cena, passei brevemente pelo Cena em Pauta (site de crítica teatral, também de BH, idealizado por Bremmer Brahma). Neste caminho, estimulado pelas reflexões tecidas no Ateliê e pelo desejo crescente em realizar alguma coisa neste campo, passei a ser assíduo leitor de críticas teatrais. Encantava-me sobremaneira aquelas análises em que o/a autor/autora apresentava explícita ou implicitamente sua concepção artístico-política do ofício crítico, seus horizontes estéticos e, em meio a tudo isso, compartilhava seus afetos em jogo, em movimento, em interação carnal com o fenômeno cênico. A empolgação era tamanha (e tão perceptível) que cheguei a ganhar, de um cordial amigo, um velho livro, em cuja lombada se lia “Machado de Assis – Crítica Teatral”. Aquilo foi o máximo.
Foi salutar ler tantas críticas (e definições/concepções de crítica), sobretudo por que passeei por autores/autoras muito diversos em termos espaço-temporais e teórico-estéticos. Isso me ajudou a compreender que a crítica teatral tem muitas faces, muitos lados, muitas linhas em um novelo repleto de nós e contradições. Ao mesmo tempo, me percebi refém de certas expectativas acerca do que é/deve ser um crítico de teatro. A respeito disso, eu me lembro de ter lido o livro A função da crítica, obra que reunia reflexões e depoimentos de três veteranos da crítica teatral brasileira, como Jefferson Del Rios (1943-), Bárbara Heliodora (1923-2015) e Sábato Magaldi (1927-2016). As palavras deste último me acertaram em cheio:
“Um crítico não tem autoridade se não conhece a contento a história geral do teatro e em particular do brasileiro. É recomendável ler toda a dramaturgia grega e romana, a medieval, a renascentista, até chegar à moderna. Hoje há histórias do teatro em várias línguas, mostrando os valores essenciais característicos de uma época. E há estudos qualificados a respeito de todos os elementos da arte cênica: além do texto, a encenação, o desempenho, a cenografia, a indumentária, a iluminação, etc” (MAGALDI, 2014, p.69).
Nesta visão sobre a crítica, parece haver pouquíssimo espaço para o não-saber, o desconhecimento, a dúvida. E, diga-se de passagem, estas são algumas das coisas mais abundantes que um ser humano de vinte e poucos anos tem (como era o meu caso na época em que li este livro). E agora, José? Ser ou não ser crítico? Isso me fez recuar um pouco. Com bastante medo eu passei a escrever menos, bem menos do que eu poderia, pois desgraçadamente tentei seguir a cartilha do Sábato, lendo o máximo que eu podia (e consequentemente arrisquei menos). Não posso dizer que essa postura foi inteiramente negativa. Trouxe certos ganhos, mais bagagem, mais repertório de uma certa cultura teatral, mas deixou, naquele momento, minha escrita inchada de termos/conceitos/jargões para demonstrar o grande saber que um crítico obrigatoriamente deve ter. Escrever crítica era algo sofrido, eu sentia que precisava sempre provar minha inteligência para alguém.
Ao mesmo tempo uma outra tensão já crescia com bastante força. Como artista cênico cofundador da Cia. Espaço Preto[1], eu aprofundava leituras e práticas nos universos poéticos dos teatros negros, conhecendo autores/autoras, personagens, narrativas e visualidades pretas que rasuravam essa branca história universal do teatro. Eu não consegui reconhecer referências negras no ideal de crítico apontado por Sábato Magaldi[2]. Além disso, no bojo dos desejos e perspectivas antirracistas, forjados coletivamente na arte elaborada pela Espaço Preto, havia uma desnaturalização desses discursos de poder e de autoridade, direta ou indiretamente, ligados à imagem branca/eurocêntrica. Então, com o tempo percebi que não seria ali o nascedouro do meu projeto de crítica.
Todas essas experiências vêm me levando para certos lugares/pensamentos/conversas: Em primeiro lugar, diferentemente dos anos iniciais (quer dizer, mais iniciais ainda), não concebo hoje uma crítica que não abarque o prazer, o deleite, a gostosura de um encontro (sem romantizar seus conflitos, tensões e divergências). Uma crítica implicada corporalmente no presente, distante de cerebralismos ou ultra-racionalismos limitantes. Crítica de fato envolve até o último fio de cabelo. Ao mesmo tempo (talvez paradoxalmente) gosto de pensar a crítica a partir do desconforto (algo como uma inconveniente dor no mindinho que insiste em nos lembrar que aquela parte do corpo de fato existe e pulsa). Desconforto não como polêmica, recusa ou mero ataque (embora possa haver potência criativa na destruição), mas aquilo que desalenta a tranquilidade, gera inquietude e não dá sossego ao corpo, ao pensamento, às reflexões. Gosto quando o desconforto desconfia da comodidade dos sentidos, das definições e dos paradigmas postos. Transparências não me animam. Nesse sentido, crítica para mim não é essencialmente apaziguamento. É tensão. Mas uma tensão que não anula/hierarquiza/ regula a presença e a inteligência dos demais. Pelo contrário, a crítica pode ser um saboroso passeio. Mas em uma trilha composta por dúvidas, provocações e desestabilizações fincadas num terreno que guarda suas irregularidades. Não é, contudo, um passeio solitário. Solipsismo é o arqui-inimigo da crítica.
– corte –
Em novembro de 2018, ainda como colaborador convidado do Horizonte da Cena, escrevi um ensaio intitulado Crítica da razão teatral [negra]. Ali, talvez, eu tenha esboçado um projeto de crítica interessado em não apenas reler a contrapelo os discursos, cânones e historiografias teatrais do Brasil, mas pensar densamente uma crítica teatral a partir das corporeidades negras, suas tramas epistemológicas e estratégias criativo-conceituais. O texto refletia sobre as contradições, omissões e limites da crítica teatral, tomando como ponto de partida a jornada histórica do Teatro Experimental do Negro (1944-1968), no contexto da chamada modernização do teatro brasileiro. Há, nesse texto, coisas que ainda fazem sentido para mim, mas passados 3 anos, identifico no tal ensaio alguns pontos com os quais não concordo mais, considerando a minha visão de crítica hoje.
- Na ansiedade de criticar olhares coloniais, eurocêntricos e racistas que historicamente se debruçaram sobre o teatro negro, o ensaio parece indicar que haveria saberes/conceitos/linhas teórico-estéticas que por si só seriam legítimos ou melhores para se pensar as cenas negras. Isso é um equívoco, pois as teatralidades e performatividades negras, plurais como são, podem ser acessadas/debatidas por diversas vias. Não basta só alterar as cores das referências bibliográficas, é importante subverter a lógica por detrás de uma crítica legisladora ou legitimadora.
- Apontei a afrocentricidade como um caminho possível para uma prática outra de crítica. A despeito de suas reais contribuições, não tenho mais apreço pela proposta afrocêntrica. Na verdade, já questiono a ideia mesma de centro. Não me interessa o centro. Quero fazer uma crítica engajada no movimento, no deslocamento, no trânsito, capaz de ser infixa, desconfiada de princípios unívocos. Leda Martins nos ensina que as culturas negras são culturas das encruzilhadas, lócus por excelência da dinâmica e da transformação.
- Acabei tomando países estrangeiros como referências muito centrais. Por mais que eu estivesse me referindo à produção intelectual de críticos teatrais negros mundo à fora, eu deixei, na pressa, de analisar mais cuidadosamente nossas próprias movimentações e tecnologias afro-brasileiras, especialmente as do passado. Hoje me dedico, por exemplo, a investigar profundamente as crônicas teatrais de um Lima Barreto ou os debates estético-cênicos presentes na nossa imprensa negra do eixo Rio-São Paulo ao longo, praticamente, de todo o século passado. Esse gesto de escavação me interessa fortemente como projeto de pesquisa e de crítica. Observar o movimento do passado e, a partir dessas elaborações, projetar uma paisagem histórica desarticuladora das oficialidades e das ausências. Uma paisagem capaz inclusive de redimensionar nossas noções históricas de crítica teatral neste país.
- Citei nomes de críticos/criticas negros/negras como Marcos Alexandre, Soraya Martins, Mário Rosa, Anderson Feliciano, Miguel Arcanjo, mas sem uma pesquisa mais ampla, acabamos sempre ignorando pessoas, como Viviane da Soledade (RJ) ou Aza Njeri (RJ), com a qual inclusive trabalhei posteriormente. É verdade que não pretendi fazer um mapeamento sistemático da presença negra na crítica teatral contemporânea, mas é sempre problemático gerar essas lacunas.
É instigante notar como, no campo das artes negras, a necessidade de se forjar outras perspectivas/orientações para a crítica cultural há muito afirma-se como uma discussão fundamental no que se refere a construir reflexões que desmistifiquem parâmetros estéticos falsamente neutros/objetivos e também apontem para alternos marcos historiográficos fora da linearidade. Há algumas décadas, Abdias Nascimento já bradava:
“Esse critério ou crítica, referida a padrões estranhos à criação negro-africana, tem um sentido manipulador; não consegue ascender ao entendimento de que, concretizando nossos mitos e legendas em manifestação artística, em lugar de submeter nossa arte ao ditado dos críticos e aos parâmetros da cultura euro-ocidental, estamos historicizando um potencial mítico que não se reduz à imobilidade arcaica; estamos tornando as funções prístinas em contemporâneas forças de transformação social.”
Naquele momento Abdias entendeu a necessidade de um olhar que, para além de meramente valorizar (ou dar visibilidade a) suas criações, fosse capaz de, no pensamento estético, redimensionar, histórica e culturalmente, existências e criações negras, adensando um debate público que, desestabilizando cânones, formulasse princípios/saberes/questões interessadas em reposicionar os lugares e os papeis atribuídos ao corpo negro. Encarar as artes negras a partir de seus próprios termos, movências e reinvindicações, sem a chancela branca (sem chancela alguma, na verdade). Como seria construir uma história do teatro brasileiro a partir da pele preta? Interessa-me construir uma crítica que seja também exercício constante de re-imaginação, reinscrevendo a complexa humanidade de nossas gentes pretas. Tomar, enfim, as textualidades, performatividades, invenções e tecnologias cênicas da negrura como elementos fundamentais da formação artístico-cultural do Brasil de ontem, de hoje e do porvir.
E se de repente passássemos a pensar e a imaginar os teatros negros (mas não apenas) a partir de outros pressupostos poético-culturais, histórico-simbólicos? Quais outras sensibilidades poderiam ser criadas/provocadas/re-ativadas quando compósitos teórico-conceituais marginalizados (negro-brasileiros, afro-diaspóricos, por exemplo) redimensionam o próprio olhar, suas escolhas e condicionamentos? Uma reorientação/subversão teórica altera não apenas as respostas, pode alterar radicalmente as perguntas.
Tenho ficado mais atento ao fato de que não desejo elaborar apenas resposta/reação ao que está posto ou às agressões. É preciso driblar a previsibilidade que nos captura. Uma crítica teatral [negra] que também seja “capaz de virar as costas e tapar os ouvidos a tudo o que se espera de uma crítica teatral [negra].”[3] Para isso, tenho pensado cada vez mais, na potência que existe quando ponho em movimento as próprias contradições implícitas ou explícitas que as cenas negras possuem. Não como um gesto de apontar/elencar supostos equívocos, mas como um ato criativo de pensar sempre nas ambivalências-ambiguidades incontáveis que o signo negro estética e historicamente possui. Mergulhar nas infinitas polissemias (e opacidades) do palco negro.
José Fernando de Azevedo uma vez disse que os teatros negros são críticas ao presente. Concordo. As suas experimentações, suas elaborações formais/estruturais, seus rasgos composicionais borram paisagens histórico-culturais unívocas. E também apontam caminhos. “Aqueles que habitam as margens conseguem ver coisas inimagináveis”, como nos lembra Rosane Borges.
Quanto a esse país, me interessa pensar o Brasil a partir maciçamente das chaves de leitura construídas pelas cenas negras em suas multifaces. Uma crítica que possa se lançar nos grandes debates públicos do nosso tempo, dos grandes dilemas. Críticos e críticas são pensadores/pensadoras do Brasil. Por que não desenvolver uma teoria deste país a partir do campo teatral? Quais projetos de país nossos projetos de crítica almejam?
Nestas interrelações entre crítica, historiografia e ideologia, intenciono, com minha crítica, perfurar o terreno da história, semear outras miradas, germinar processos investigativos/especulativos/inventivos que, na tessitura da crítica, mobilize memórias, saberes e agências desarticuladores do status quo. Desconfio bastante das aparentes estabilidades.
TÓPICOS AVULSOS
Pensar em um projeto de crítica envolve expectativas, estruturações e desejos. Quero pintar um projeto que não se pretenda inteiriço, hermético, resoluto.
Será que minha (nossas) críticas possuem pontos cegos? Quais seriam? Quais sombras minha (nossas) críticas projetam? A crítica deve iluminar/esclarecer alguma coisa?
Uma crítica que não perca a capacidade de se espantar com o mundo (e de alguma forma espantá-lo também).
Não me interessa apenas produções cênicas isoladas, mas toda a cultura teatral, suas relações com o mundo, suas teorias, suas contradições político-históricas.
Crítica também é escuta profunda.
Crítica teatral não é essencialmente um gênero textual. É uma relação artístico-social que, ao tensionar a própria matéria da vida, reconfigurada em forma estética, almeja sempre a dimensão pública.
Criticar, para mim, se assemelha também a encarar a relação com a obra de arte como se fosse um dado de muitas faces. Quero que minha crítica seja um intenso lance de dados, aberto às probabilidades, às múltiplas possibilidades de vir a ser, englobando o risco, o incerto. O que nos anima não é o dado imóvel, mas em movimento. Ou, como nos diz Mallarmé: “Um lance de dados nunca abolirá o acaso”. Um lance de dados pode envolver teorias da matemática (probabilidade, permutação, estatística, etc), mas não escapa, em maior ou em menor grau, do imprevisto. O mesmo venho pensando para minha prática crítica. Não quero que conceitos, teorias, arcabouço estético-dramatúrgico trave a roda da fortuna, isto é, a contingência, a eventualidade, a imprevisibilidade transformadora que só aquele encontro pode suscitar. Espero que, por mais fundamentada, minha crítica sempre brinque com a indeterminação[4].
Desenhar uma imagem crítica desse mundo.
Uma crítica que olhe para o mapa e trace outras rotas, mas não se esqueça de questionar a própria matéria/existência do mapa. Criar outras cartografias do pensamento que sejam capazes de provocar interrogações moventes, inventivas.
Em princípio é inviável estudar crítica de um lado e criação artística de outro. A crítica se constitui na interação mesma com as transformações artísticas. Essa relação é fortemente processual, não é estática.
Uma radical transformação na crítica cultural não se dá isoladamente, em si mesma. Uma excelente forma de criticar a realidade é, certamente, ajudar a transformá-la. Minha crítica, meu corpo e minhas energias estão, sem idealismos, implicados nas lutas pela destruição dos sistemas capitalista, colonial, racista, misógino em todas as suas variações. Recusar a crítica como mercadoria é principalmente recusar o neoliberalismo que a tudo quer vender.
John Gassner afirmou que a crítica é contra alguma coisa precisamente porque é a favor de outra[5]. Essa lógica fortemente binária, dicotômica me soa problemática, um tanto desestimulante. Mas não me parece possível enxergar a crítica (suas formas, projetos, debates, embasamentos) fora de disputas estético-políticas. A aversão que temos para com a visão de uma crítica absolutamente neutra/objetiva é justamente a consciência de que nossos textos, práticas e discursos possuem um lado, tem atravessamentos ideológicos e, logo, bases concretas no mundo. Meu projeto de crítica não diz sim a tudo.
Crítica não é (apenas) o alimento. É a fome.
[1] A companhia Espaço Preto foi fundada em março de 2014, quando o ator e iluminador Preto Amparo convidou atores e artistas negros, estudantes da Universidade Federal de Minas Gerais para participarem da criação de um espetáculo, investigando as linguagens e expressões cênicas do Teatro Negro e da Arte Marginal, como resultado do seu Trabalho de Conclusão de Curso. A cia. se articula em uma conjuntura acadêmica de sistemática negação e subalternização das artes cênicas negras na estruturação pedagógico-curricular do curso em Teatro da UFMG, desafiando os referenciais epistemológicos hegemônicos, eurocêntricos e historicamente dominantes. O histórico da Cia. pode ser visualizado nos verbetes teatrais do site Literafro: http://www.letras.ufmg.br/literafro/teatro/1416-espaco-preto
[2] O ensaio de Sábato Magaldi é evidentemente maior que a citação presente aqui. Não pretendo reduzir a amplitude de todo o seu pensamento que, neste mesmo ensaio, traz outras contribuições significativas. Mas este é um ponto central de toda a sua argumentação, além de ser parte de um paradigma crítico ainda vigente.
[3] Estabeleço uma interlocução com o pensamento de Salloma Sallomão que originalmente disse: “Um teatro é negro quando é capaz de virar as costas e tapar os ouvidos a tudo o que se espera de um Teatro Negro.”
[4] Inspiro-me aqui no vicejante projeto intitulado Indeterminações, idealizado por Lorenna Rocha (PE) e Gabriel Araújo (MG). Em linhas gerais, trata-se de uma plataforma de crítica, reflexões e ações voltadas para os debates em torno do cinema negro brasileiro, suas narrativas, histórias e problemáticas estético-políticas. O seu instagram é: @indeterminacoes
[5] O artigo se chama O lado prático da crítica estéril, e está incluído no livro Rumos do teatro moderno, de 1965.