por Luciana Eastwood Romagnolli
“Cenizas”. Foto de Alexandra dos Santos. |
Entre os 13 países ibero-americanos que visitaram o Brasil nesta segunda edição do Mirada – Festival Ibero-Americano de Teatro de Santos, realizado pelo Sesc-SP entre os dias 5 e 15 de setembro, o Paraguai encontrou uma brecha para apresentar um exemplar de sua produção teatral em meio à nova ditadura instaurada recentemente naquele país. “Cinzas”, do grupo Hara Teatro, aborda a Guerra do Paraguai (1864-1870) com a linguagem do teatro-dança e da música experimental.
“Tivemos muitas ditaduras e, agora, um novo golpe. O presidente começou as pequenas proibições, demitindo os diretores da TV pública. Estamos tentando criar uma nova forma de existir a partir do teatro, do rock e do trabalho corporal, usando tipos de dança e de corpos relacionados às influências indígenas”, comentou o diretor Wal Mayans.
Segundo ele, hoje existem apenas três ou quatro companhias paraguaias com sede fixa. Não há cultura de grupo, por causa da impossibilidade de sobreviver financeiramente da arte teatral, e o governo do país se mostra indiferente. “Os artistas de teatro não existem para o ditador. O governo tem pouca memória, não se recorda de que, na ditadura anterior, veio do teatro o movimento de mudança e a comunicação de tudo que era importante. Agora, estamos recomeçando. Não vamos nunca direto contra eles, tudo está nas entrelinhas e na contracena. É a única forma para que o teatro não termine”, disse.
Espetáculo apresentado no Mirada – Festival Ibero-Americano de Teatro de Santos, em setembro de 2012.