Uma atmosfera rarefeita
A experiência do feminino
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Um corpo em transformação
“Makunaíma…”. Foto de Lidia Sanae Ueta. |
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O deboche da decadência precoce
“Nem o Pipoqueiro”. Foto de Lidia Sanae Ueta. |
“Nem o Pipoqueiro”, do Coletivo Nu, havia passado pelo Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto, em Belo Horizonte, antes de chegar à 8ª Mostra Cena Breve Curitiba, e sofreu transformações nesse percurso, em que se prepara para se tornar espetáculo. As três jovens atrizes – Cristina Madeira, Fabiana Brasil e Mariana Teixeira – enfrentam os percalços de início de carreira, forjando a situação de uma apresentação de teatro de revista ou cabaré à qual nenhum espectador comparece. O pessimismo de suas constatações se confronta às expectativas de sucesso e legitimação: o apoio financeiro da Petrobrás, o prêmio Shell, a capa da Bravo!.
A ambição que não se encontra entre elas é a de um projeto artístico. Chegam a dizer que, se houvesse público, talvez aí sim tivessem o que dizer, na mais cruel das constatações: a do artista sem arte. Sua ironia recai sobre a fama pela fama – e a plateia embarca no apelo, gritando o nome de “Cristina” para a clamada satisfação do ego da atriz, personagem de si mesma. Querem palco para quê? Público para quê?
O coletivo, que criou conjuntamente o texto, trabalha um humor de alta comunicação com o público presente fora da ficção instaurada. Joga com falsos contrangimentos, referências metateatrais de fácil assimilação também por quem não é do teatro (como a “legitimação” vinda de Elba Ramalho), uma debochada exposição dos corpos semidespidos e do recurso excessivo às projeções de vídeo, numa edição ágil de efeito cômico.
Dessa maneira, a cena absorve alguns dos questionamentos predominantes em produções teatrais contemporâneas, tal como o embaralhamento entre o real e o ficcinal, o metateatro e a relação com o audiovisual, vulgarizando seus usos no desbunde da decadência precoce. A reconhecida carência do propósito artístico – ironicamente ou não, as artistas se detêm naquilo de que debocham – estabelece os limites da dramaturgia.