Luiz Bertazzo e Greice Barros trabalham com estados emocionais limítrofes (Fotos de Emi Hoshi – Clix Divulgação) |
A Cia. Senhas potencializa o jogo de instabilização da realidade já presente na construção textual do diretor e dramaturgo Daniel Veronese, fazendo evidenciar, como já acontecia de certa maneira em “Circo Negro”, o que Freud categorizou como relativo ao sinistro, “o assustador que remete ao que é conhecido, de velho, e há muito familiar”, justamente para desestabilizar o senso comum. Em sua construção, o espetáculo elabora uma série de procedimentos que possibilitam ao espectador ter sua fruição impregnada por impressões sinistras. Esses elementos já estão em Veronese – como a sensação de que algo está oculto na narrativa e que imaginação e realidade não são distinguíveis – e ganham ainda mais potência na elaboração da companhia curitibana.
A atuação, principalmente no registro que Greice Barros e Luiz Bertazzo atingem nos papéis de pai-mãe, é construída a partir de estados emocionais contraditórios e simultâneos, friccionados entre a contenção e o transbordamento, como se seus corpos pudessem ser divididos em dois: uma metade que se protege, cujos gestos são extremamente comedidos, e outra que não é mais capaz de reter a emoção que insiste em vazar pelos olhos, como se algo que quisessem esconder escapasse mesmo que contra a vontade. Estados emocionais levados ao limite, mantidos à beira do insuportável e prestes a serem detonados.
O Horizonte da Cena viajou a convite do festival.