— por Soraya Martins —
“Chão de Pequenos” e “Eras”.
Quilombo. s.m. do quimbundo kilombo, acampamento, arraial, povoação, povoado; capital, união; exército. Segundo Adriano Parreira, “o vocabulário kilombo tem dupla conotação: uma toponímia e outra, ideológica”.
Mostra Benjamim de Oliveira. Casarão das Artes. SegundaPreta. Polifônica Negra. E Aquilombô – Mostra de Artes Negras: mais uma mostra de artes negras em Belo Horizonte. Mais um aquilombamento de artistas negras e negros que se juntaram para mostrar arte (o que passa longe de uma espécie de essencialismo negro, do entendimento torto de que a produção artística negra se associa somente a uma religiosidade de matriz africana ou a males sociais), refletir sobre a própria produção e criar fissuras, problematizar a invisibilidade de tais produções no espaços destinados à arte na cidade, resistir e, acima de tudo, anunciar, fundando e ocupando espaços, tecendo novas epistemes e narrativas.
No Aquilombô-terreiro, espaço da encruzilhada de saberes e cosmovisões formado no Teatro Francisco Nunes entre os dias 02 e 13 de agosto, a música, o teatro, o circo, o público e os artistas colocaram no jogo de cena uma iniciativa epistêmica da produção do desejo, dialogando com um território de experimentação artística e buscando mudar padrões do ser, do saber e do poder em ato estético. Esse quilombo-terreiro, como aponta Muniz Sodré, joga com a ausência de universalizações e com a abolição da escravatura de sentidos.
Nesse terreiro, o corpo negro é pensado como conceito semiótico, definido por uma rede de relações, sem delimitar fronteiras discursivas. No movimento do signo negro, em suas variadas posições, se acentua um outro saber também possível, “possível de verdades, possível de legitimidade, possível de encanto e sedução, e como todo saber, passível, porém, de fendas, de rasuras, de incompletudes” (Leda Maria Martins).
A primeira edição do Aquilombô trouxe uma programação que expande as possibilidades de se pensar a representação do corpo negro e suas particularidades em cena e se afirma, junto à Mostra Benjamim de Oliveira, ao Casarão das Artes, à SegundaPreta e à Polifônica Negra, como espaço de sensibilização que produz e está disponível para outras possibilidades éticas, subjetivas e estéticas em arte.
Nesse Aquilombô, onde se penetra na brecha cantando, dançando e performando, a arte assume seu papel principal na organização do sensível, estabelecendo uma nova ordem, outros discursos e a possibilidade de elaboração de uma negro-perspectiva que potencialize as produções estéticas. Reverter.
Aquilombô. (1) do verbo aquilombar. Ultrapassar as cercas impostas pela sociedade. Criar. Anunciar. (2) Madame Satã. (3) Memórias de Bitita – o coração que não silenciou. (4) Chão de Pequenos. (5) O grito do Outro – O Grito Meu!. (6) Kalundú. (7) Eras. (8) Bala da Palavra. (9) IMUNE (Instante da Música Negra).
Sobre esse aquilombô.
Curadoria: Rosália Diogo e Rodrigo Jerônimo
Coletivo Negras Autoras
Espaço Preto
Benjamin Abras
Companhia Negra de Teatro
Bala da Palavra
IMUNE