– Por Giorgia Conceição a.k.a. Miss G (Pesquisadora e Performer) –
Picnic YNTB 2018/ Foto de Maíra Barillo.
What a fuck is Burlesque?
Um modo de performar, que em português é denominado burlesco; em inglês, burlesque. Em nossa língua, usamos a palavra a partir da etimologia italiana, e no inglês, usa-se a francesa. Curioso é que não existe equivalente em línguas anglo saxônicas, então, apesar da hegemonia global da língua inglesa, internacionalmente, usa-se mesmo a palavra de raiz latina (apesar do desconhecimento de seu sentido etimológico pelos anglófonos). Burlesque – ou burlesco – é relacionado à produção de performances de mulheres, queer, e outros corpos marginalizados: subjetividades e identidades que não se enquadram nos padrões das artes oficiais, e não citados dentro da historiografia ou da crítica artística oficial. Julie Atlas Muz, uma artista estadunidense diz, numa das falas do filme Burla ou como fazer um corte barato[1], que burlesque pode ser tanto um estilo de teatro, de cena, quanto um estilo de vida – portanto uma estética, no primeiro caso, como também uma ética, na segunda opção, mas que não necessariamente as envolvidas se engajam nas duas coisas ao mesmo tempo, e que não se pode confundi-las.
Still do filme Burla ou como fazer um corte barato, 2017 (Na foto, Delirious Fenix, Julie Atlas Muz, Dirty Martini e Miss G)
Por que eu cheguei ao Burlesco?
Meu lugar de fala é o da artista de teatro que percorre um caminho até o burlesco, e a partir disso, passa a pensar e escrever sobre sua experiência, seu corpo e suas práticas. Também como testemunha ativa desse movimento, que cresceu e continua se expandindo em várias comunidades artísticas em nosso país. Meu foco de maior interesse é o burlesco contemporâneo no Brasil (performances majoritariamente feitas por mulheres, em cabarés, clubs, eventos alternativos, ou eventualmente em teatros e galerias de arte). Um burlesco decolonial, antropofágico e carnavalizado, político e questionador de identidades, e que utiliza a burla como estratégia e política de criação.
Miss G por Ida Vickers.
Burla?
A burla é a origem etimológica do burlesco. Burlesco é o adjetivo daquilo que burla. A palavra deriva do latim burula, gracejo, piada. A literatura foi a primeira área artística a adotar a palavra, a partir do século XVII. Ao migrar para o campo da performance, a burla pode ser usada como estratégia e política de criação, questionando o valor e o significado de identidades. Uma chave de ignição, que permite ao performer exibir a fraude da fixidez identitária, através da reversão de certos efeitos da cultura hegemônica em seu corpo. Explicando de outra maneira: na literatura burlesca, o autor zombava da altivez de heróis, ou enaltecia personagens do povo, provocando distorções e novos olhares aos padrões estabelecidos; mas a dimensão dessa experimentação (paródica, sátira, crítica) passa, então, da escritura de personagens fictícios para corpos reais de performers. Comecei a desenvolver essa noção de burla na performance, e explicar o burlesco a partir dela, durante minha pesquisa de mestrado na UFBA, intitulada A Burla do Corpo: estratégia e políticas de criação[2]. Antes disso, não havia registros claros em torno dessa associação entre burlesco e o ato de burlar. A passagem do burlesco da literatura para a performance, como um subgênero do cômico, é um fenômeno que ocorre ao longo dos séculos e de maneira bastante descontínua e plural. A aproximação que faço é a partir de meu corpo e minhas experiências, como citei anteriormente. Hoje, tenho ouvido cada vez mais o termo ser apropriado e usado por várias artistas do meio, e essa é uma das coisas que mais me deixa feliz: ver como a pesquisa, que iniciei por ganas pessoais, reverbera em outros corpos e existências.
Que história é essa?
Uma pergunta muito recorrente é qual a origem histórica do burlesco, e por conta dela, fui provocada a escrever esse texto[3]. Sempre que alguém tenta definir isso, acaba sendo reducionista ou cometendo um silenciamento. A História, com letra maiúscula, atua da seguinte forma: institucionaliza algumas coisas em prol do apagamento de outras. O que chamamos hoje de burlesco são várias histórias: de mulheres, sujeitos queer, freaks e marginais; de artistas pouquíssimo valorizadas, que formam um lado obscuro e pouco conhecido da performance. O espectro do burlesco não se enquadra muito bem dentro dos parâmetros do teatro, circo, dança, ou mesmo performance art. No Brasil, temos registros dessa linguagem apenas a partir de 2006 – ano em que, em São Paulo, Fascinatrix e Sweetie Bird começam a se dedicar a essa arte, após as apresentações de Michelle L’Amour (EUA) no Brasil[4]. Um surgimento um tanto tardio, se considerarmos a cena novaiorquina dos anos de 1990[5]. Mas, e se ao invés de pensarmos uma ‘História do burlesco brasileiro’, pensemos em sua geografia? Em suas paisagens descontínuas, ao invés de linha do tempo. Com floresta e cidade, morros, declives, vales profundos, porões; prédios contemporâneos, coexistindo com casarões antigos, simultaneamente; vários tipos de usos e ocupações de lugares (físicos e de fala). Esse jeito de pensar, plural e espacializado, parece ser mais útil para nós que uma linha contínua de passado, presente e futuro. Proponho, também, que olhemos para o burlesco através das lentes multifocais do campo de Estudos da Performance, trazendo ferramentas transdisciplinares de leitura.
Madame Sassá (Ruth Mezeck), por A Gataria Photography (YNTB, 2018).
O que há nesse horizonte?
A performance burlesca ou, como ela é mais comumente chamada por artistas e público, o burlesco, ainda é pouco conhecida no Brasil. Isso não quer dizer que seja totalmente estranha a nós. Mas como isso começou aqui? Bem, é certo que Fascinatrix e Sweetie Bird, com estilos, formas de trabalhar e continuidade de carreira bastante distintos, foram as pioneiras do que tem se chamado a nova onda do burlesco brasileiro, ou nosso new burlesque (ou neo burlesco). Há que se considerar a influência dos meios de comunicação, concentrados em sua maioria em São Paulo, bem como o estilo de vida cosmopolita da cidade, que possibilitou o desenvolvimento de seu trabalho. Isso envolve, além do desejo das artistas em se expressar, ter lugares onde os shows possam acontecer, e também um público interessado. Mas, e onde não existem meios de comunicação tão eficientes, ou onde simplesmente pode ser perigoso ser uma artista? Será que já não havia alguém antes delas? Algumas performers que nunca se enquadraram nos moldes de vedetes de teatro de revista, ou atrizes do cinema, já faziam shows autorais e incomuns nas décadas de 1950 e até mesmo antes. Nomes como Luz del Fuego (1917-1967), Elvira Pagã (1920-2003) e Suzy King (1917-1985) são exemplos disso, mas há muitas mais. Se considerarmos a ditadura militar nas décadas de 1970 e 1980, além da instabilidade econômica e social dos anos de 1990, mal se conseguia escrever e registrar fenômenos dos circuitos mais oficiais das artes. Se havia artistas burlescas (e em minha opinião, é bem provável que havia, mesmo que não se auto-declarassem por esse mesmo termo), deviam estar atuando intencionalmente nas sombras. Não há muito material sobre nossas avós, mas há esforços hoje para se cartografar essas existências. Um exemplo desse trabalho é a dupla de pesquisadores Alberto Camareiro e Alberto de Oliveira (também conhecidos como Os Albertos[6]), que tem feito um trabalho bastante cuidadoso em encontrar e escrever histórias sobre essas performers. A realização de festivais pelo país, como o Yes, Nós Temos Burlesco! (que já teve em 2018 sua 4ª edição no Rio de Janeiro), e o Porto Alegre Burlesque Festival (que vai para a 2ª edição em agosto de 2018), tem contribuído também para o fomento de novas artistas e a formação de público, além de fortalecer laços de afetos e informações entre artistas de várias partes do país.
E a tal origem?
Saindo do território nacional, a história do burlesco remete aos teatros populares realizados nas feiras europeias no Renascimento, os mesmos que deram origem às Revistas e Vaudevilles. E estes estilos, em meados do século XIX, vindos de Portugal (que os copiava em estilo da França) chegaram ao Brasil. Já li, em muitos lugares diferentes, que o burlesco surgiu a partir da Commedia Dell’Arte, na Itália. Porém, o adjetivo burlesco foi empregado a primeira vez na literatura, para classificar a obra Virgile Travesti[7]. Há, também, o kabarett de estilo alemão (veementemente político, ácido e irônico), e mesmo as vanguardas históricas do século XX, que valorizavam a arte da performance, como os dadaístas no Cabaré Voltaire, em Zurique. Vocês começam a reparar que há buracos e descontinuidades no que estou falando? Temos que considerar que, se voltarmos ainda mais no passado ou mudarmos de região, o desempenho de grupos de artistas quase clandestinas, quando as manifestações teatrais eram proibidas oficialmente pela Igreja, são subvalorizados ou simplesmente não constam nas páginas da História. Mulheres, sujeitos nômades e imigrantes, deficientes físicos, homossexuais, e quaisquer corpos não aceitos dentro das esferas das artes oficiais, também não. Talvez elas gostassem de encenar e performar inspiradas pela literatura marginal e popular, certamente muito mais do que representar heroínas intangíveis, em narrativas distantes de suas realidades. É factível pensarmos em grupos de mulheres performers, desde que, na Grécia, os cultos populares a Dionísio foram proibidos, institucionalizando-se os Festivais de Teatro – onde mulheres definitivamente não tinham lugar. E, já que estamos falando de Grécia, gosto de pensar nessa tal “origem” do burlesco como algo mítico: o burlesco surgiu, dentro dessa paisagem que estou propondo a vocês, a partir da criminalização das bacantes.
Redbone (EUA), headliner da 4ª Edição do Festival Yes, Nós Temos Burlesco (YNTB, 2018), por A Gataria Photography.
Por que tirar a roupa?
Mulheres artistas passaram, a partir disso, longe dos teatros financiados por recursos oficiais, dos festivais ou dos concursos. A performance burlesca praticada hoje no Brasil (semelhante, mas não idêntica, ao que se faz em alguns países da Europa, na Austrália, Canadá e Estados Unidos) é, geralmente, a ação de uma performer realizada dentro do tempo de uma canção pop, e não baseada num texto (como no teatro tradicional), mas sim em elementos visuais e numa estreita relação com a audiência. Essa tradição está muito mais ligada ao mimo (performances baseadas no jogo corporal e não num texto falado), uma faceta muito antiga do trabalho dos comediantes. Há registros sobre grupos compostos apenas de mulheres, na Grécia e em Roma (BERTHOLD, 2011). Por lógica, e por sabermos dos efeitos de silenciamento, podemos deduzir que esses grupos também existiram em outras culturas antigas, como a egípcia e a babilônica. No burlesco contemporâneo, a estrutura da performance envolve, na maioria dos casos, um strip-tease. Essa estrutura se consolidou ao longo dos anos nos Estados Unidos, bem como os figurinos clássicos geralmente associados ao burlesco[8]. As pessoas entendem um pouco mais, no Brasil, “what a fuck is burlesque?” quando exemplificamos com a cena do filme Elvira, A Rainha das Trevas[9]; ou quando falamos de Dita Von Teese; ou da modelo Bettie Page, para as mais fashionistas ou cultuadores do que se conhece como vintage. Esse formato tem origens em meados do século XIX nos Estados Unidos. E é de lá que, por causa da influência cultural e cinematográfica, a linguagem se expandiu para outros lugares. Conta-se que um grupo de artistas mulheres, dirigido por Lydia Thompson, chegou à cidade de Nova York em meados de 1868, vindo de Londres. As moças entendiam que exerciam um certo domínio sobre a plateia majoritariamente masculina e pouco educada, principalmente quando usavam seu corpo e sensualidade para fazer passar seus discursos. Vê-se, portanto, que o strip-tease é uma técnica de atuação que possibilita uma comunicação mais imediata com o público. Seus shows tinham momentos bastante picantes de exposição de tornozelos e ombrinhos, e as moças aproveitavam a hipnose da plateia para falar piadas sujas e manifestar opiniões políticas. Aliás, apenas o fato de um grupo de mulheres ousar ocupar um espaço, um lugar de fala, e se expressarem-se com seus corpos e ideias, já era (e continua sendo) uma atitude política em si. Ao longo do século XX, esse estilo subterrâneo e produzido por mulheres, foi absorvido pela indústria de espetáculos e do cinema, sendo inclusive usada como máquina de guerra a favor do estado americano. As pin-ups, por exemplo, eram versões mais diluídas e adocicadas das rebeldes performers burlescas, representadas para animarem os soldados para batalhas em nome do bem. Essa apropriação dos homens sobre os meios de produção femininos, bem como as mudanças de interesse do público, levaram à decadência do gênero burlesco nos EUA, a partir do pós-guerra.
Um burlesco antropofágico?
O mesmo movimento de decadência também foi experimentado no Brasil pelo Teatro de Revista. Outrora bastante popular e político, a Revista foi perdendo espaço para o futebol como paixão nacional. A instabilidade política e a repressão à brasileira também restringiram os espaços possíveis para apresentação de artistas que celebram seus corpos e liberdade. O machismo, típico de culturas latinoamericanas e autorizado pela repressão brasileira, tornava as coisas sempre mais difíceis. Algumas mulheres trans e travestis furavam mais facilmente o bloqueio da hipocrisia (marginalizadas em suas vidas, eram estrelas no palco)[10]. O grupo queer Dzi Croquettes[11], também. Em plena ditadura militar, Croquettes e Travestis contribuíram para popularizar características bastante particulares do modo de performar à brasileira. Com inspiração em nossas performers rebeldes do passado (atrizes, divas do rádio ou dos subterrâneos), assumiam a decadência, o pastiche; sabiam trabalhar com recursos escassos, usavam o deboche e o desbunde, além do jeito antropofágico de criar. Talvez sejam essas algumas das características mais marcantes de nossas diferenças como performers. O burlesco à brasileira não segue um padrão ou estilo estrito de nenhum outro lugar e é bastante diverso e contemporâneo. Oswald de Andrade, em seu Manifesto Antropófago, diz: “O espírito recusa-se a conceber o espírito sem o corpo. O antropomorfismo. Necessidade da vacina antropofágica” (ANDRADE, 2011, p. 28). O burlesco na arte detém seus discursos e modos de operação sobre uma grande ênfase ao corpo. A vacina antropofágica a que Oswald se refere teria a finalidade de prevenir a artificial separação entre mente pensante e corpo a ela subjugado, visão exacerbada pela cultura ocidental de herança platônica, cartesiana, iluminista e positivista. Faz parte do jogo antropofágico o rompimento com essa lógica, na medida em que ela é, como tudo, transformada no processo de deglutição. Se para haver burlesco, é necessário que a burla esteja presente, o que é que se burla nessas performances? Acredito que a burla seja a do próprio corpo da artista e suas significações (históricas, psíquicas, sociais). Há um corpo a ser burlado. Se é no corpo que está inscrito as significações do mundo e do eu, a burla, aqui, seria um percurso deste corpo na tentativa de operar a partir de suas dores, de suas marcas, de seus entraves. Mas também de suas alegrias, descobertas e invenções. Burlar, em certa medida, é rir, e é preciso malícia para rir de si sem piedade. Estranhar-se.
Marquesa Amapola no YNTB 2017, por Ibsen Vasconcellos.
E qual é o lugar do burlesco no Brasil?
O pesquisador George Minois afirma que a predominância da atmosfera burlesca, durante entre os anos de 1600-1650, era uma alternativa à intelectualização do riso (transformado cada vez mais em humor refinado pela aristocracia e burguesia em ascensão). E também, de um maior controle, organização e enquadramento exercido pelos poderes oficiais sobre as manifestações coletivas. Para o autor, nesse período, “a festa está sob vigilância” (MINOIS, 2003, p. 366). Consequentemente, a ousadia, a escatologia e a pornografia teriam um uso extremamente calculado, muito diferente de um possível “caráter ingênuo e natural que podia ter em Rabelais” (MINOIS, 2003, p. 370). O choque e a provocação são objetivos claros – que se estendem para além da literatura, inclusive – marcando a vida e o comportamento de diversas personalidades da época. Voltemos para o século XX (lembrando que a proposta é olhar para a paisagem burlesca como um local amplo e diverso, onde coexistem casarões históricos, prédios contemporâneos, com diferentes usos e ocupações). O contexto de florescimento New Burlesque irradiou-se a partir da cidade de Nova York, na década de 1990. Segundo o depoimento de artistas, ele foi uma resposta de oposição à política higienista de “tolerância zero”, implantada pelo então prefeito Rudolph Giuliani, que comandou a cidade entre 1994 e 2002. Dentro do programa do ex-prefeito, qualquer contravenção deveria ser punida com a mesma dureza de um crime de maior potencial ofensivo, no intuito de inibir qualquer ação que atentasse contra os padrões estabelecidos. O burlesco no Brasil tem crescido na última década, e vem se consolidando como movimento artístico nos últimos cinco anos, a partir da realização de eventos e festivais. Também observamos, nesses últimos anos, um crescente uso governamental de políticas autoritárias, adotadas tanto em âmbitos municipais e estaduais, como no federal. O Brasil pós-golpe parlamentar está cada vez menos laico, exercendo um controle maior sobre os corpos – seja pela proibição de agrupamentos em locais públicos, pela intervenção militar, pelo uso da polícia e milícias, ou simplesmente pelo desmantelamento e sucateamento de estruturas de fomento à cultura e até mesmo ao convívio social. Compreendo a burla como ação, e o burlesco como estratégia de produção de diferença. Nesse sentido, seu uso desestabiliza as políticas autoritárias. Na burla do corpo, rompe-se com as lógicas e práticas normatizadoras, criando-se possibilidades de reinvenção. A burla do corpo extrapola permissões, proibições e significações. Ela elimina a reatividade que conecta o corpo a dispositivos conservadores, paralisantes. Onde há feridas, a burla abre frestas para a criação de espaços dissonantes de atuação: políticas singulares, gêneros performativos, etc. Onde há gozo, ela inventa conexões que proporcionam instigantes relações entre artistas e público. O corpo burlado torna-se, ele mesmo, um caminho para a leitura crítica de dados culturais.
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Agradecimentos especiais a minhas colegas artistas e parceiras de realização do Festival Yes, Nós Temos Burlesco!: Delirious Fenix, Marcelo D’Avilla (Sete de Ouros) e Marquesa Amapola; à passarinho Sweetie Bird, e toda Família Tradicional Burlesca Brasileira; e à comunidade internacional (latino-americana e estadunidense), que tem contribuído conosco através de um rico intercâmbio, saciando nossa fome antropofágica e nosso desejo pela diferença.
Referências
ANDRADE, Oswald de. Manifesto antropófago. In: ROCHA, João Cézar de Castro Rocha; RUFFINELLI, Jorge (orgs.). Antropofagia hoje?: Oswald de Andrade em cena. São Paulo: É Realizações, 2011. Páginas 27 a 31.
BERTHOLD, Margot. História mundial do teatro. Tradução de Maria Paula V. Zurawski, J. Guinsburg, Sérgio Coelho e Clóvis Garcia. 5 ed. São Paulo: Perspectiva, 2011.
BURLA ou como fazer um corte barato. Direção: Giorgia Conceição. Roteiro: Cassandra Melo e Giorgia Conceição. Prêmio Rumos Itaú Cultural, 2017. Documentário, digital, color (50min).
BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução de Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
CALDEIRA, Julio Cesar. Pin-ups pós-modernas. In: Revista Marie Claire, edição online. Publicado em 19/11/2010. Disponível em <https://goo.gl/VxkXoT>. Acessado em 09/06/2018.
CARLSON, Marvin. Teorias do teatro: estudo histórico-crítico, dos gregos à atualidade. Tradução de Gilson César Cardoso de Souza. São Paulo: Editora UNESP, 1997.
CONCEIÇÃO, Giorgia. A Burla do Corpo: estratégias e políticas de criação. Dissertação. (Mestrado em Artes Cênicas) – Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas, Universidade Federal da Bahia. Salvador. 2011.
DECLERCQ, Marie. Sim, O Brasil tem burlesco. In: Revista Vice Brasil, edição online. Publicado em 14/05/2018. Disponível em <https://goo.gl/gnjbXN>. Acessado em 09/06/2018.
DIVINAS Divas. Direção: Leandra Leal. Vitrine Filmes, 2017. Documentário, digital, color (110min).
DZI Croquettes. Direção: Raphael Alvarez e Tatiana Issa, 2010. Documentário, digital, color (50min).
Elvira: Mistress of the Dark. Direção: James Signorelli, 1988. Ficção, color (96min).
HAUSER, Arnold. História social da arte e da literatura. Tradução de Álvaro Cabral. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
LEPECKI, André. O corpo colonizado. In: Revista Gesto. Rio de Janeiro: Centro Coreográfico do Rio de Janeiro; Instituto Municipal de Arte e Cultura, 2003.
MINOIS, Georges. História do riso e do escárnio. Tradução de Maria Elena O. Ortiz Assumpção. São Paulo: Editora UNESP, 2003.
MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 2004.
NOGUEIRA, Tânia. Cabarés burlescos invadem NY. In: Revista Época, edição online. Publicado em 20/02/2009. Disponível em <https://goo.gl/9T86kG>. Acessado em 09/06/2018.
OLIVEIRA, Alberto de; CAMARERO, Alberto. Cravo na Carne – Fama e Fome – O Faquirismo Feminino do Brasil. São Paulo: Veneta, 2015.
PAVIS, Patrice. Dicionário de teatro. Tradução (dir.) de J. Guinsburg e Maria Lúcia Pereira. São Paulo: Perspectiva, 1999.
REY, Alain (org). Dictionnaire historique de la langue française. Paris: Dictionnaires le Robert, 1993.
VENEZIANO, Neyde. As grandes vedetes do Brasil. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010.
WELDON, Jo. The burlesque handbook. New York: HarperCollins Publishers, 2010.
[1] O documentário Burla ou como fazer um corte barato (2017) retrata todo o processo de criação do espetáculo Carne de Segunda – Burlesque Meat Show, no ano de 2015. Esse projeto incluiu o mapeamento de artistas burlescos do Brasil – que também possibilitou o movimento de criação do Festival Yes, Nós Temos Burlesco! – e o intercâmbio com a cena new burlesque da cidade de Nova York.
[2] Realizei esse estudo dentro da Pós-Graduação em Artes Cênicas, com orientação de Cássia Lopes, a quem muito admiro e agradeço pela parceria.
[3] A performer burlesca e agitadora cultural porto alegrense Lou DeVon procurou-me para buscar referências sobre a ‘história do burlesco’ para uma fala sua, dentro de um evento prévio ao Porto Alegre Burlesque Festival. Minha resposta a ela foi a escrita desse texto.
[4] Sobre isso, ler <https://goo.gl/VxkXoT>, matéria da Revista Marie Claire, do ano de 2010.
[5] Na década de 1990, algumas artistas, que tiveram influências das cenas queer (drag queens e performances feministas) e da performance art, deram origem a um movimento cultural na cidade de Nova York, que posteriormente foi nomeado de New Burlesque – uma referência ao trabalho de performers como Sally Rand (1904-1979), Gypsy Rose Lee (1911-1970), Tempest Storm (1928), entre outras.
[6] A dupla de pesquisadores alimenta alguns blogs dedicados a performers brasileiras. Ao escrever seu livro Cravo na Carne – Fama e Fome, o Faquirismo Feminino no Brasil, eles se depararam com várias histórias de mulheres que faziam shows diversos e que não se enquadravam nem no Teatro de Revista, nem no faquirismo.
[7] O burlesco é um subgênero do cômico. Alain Rey (1993) identifica, em seu verbete “Burlesco”, como “gênero de espetáculo [que] foi criado no século XIX nos Estados Unidos. Segundo Paul Morand, é de inspiração alemã”. (REY, 1993, p. 309). Para Massaud Moisés, “o vocábulo ‘burlesco’ designa obras literárias ou teatrais que, visando o cômico por meio do ridículo ou da zombaria, recorrem à imitação satírica ou parodística de obras sérias”. (MOISÉS, 2004, p. 58). Essas obras produziriam incongruência de assunto ou estilo, provocando o riso. A palavra burlesco deriva do latim burula, que significa gracejo, burla, piada. A literatura foi a primeira área artística a adotar o termo, a partir do século XVII. Ainda segundo Moisés, Scarron foi “o primeiro a empregar o termo, em 1643 (Recueil de quelques vers burlesques), e adotá-lo como rótulo de Virgile travesti (1648-1653), paródia de Eneida”. (MOISÉS, 2004, p. 58).
[8] Definitivamente, a questão dos figurinos de burlesco é assunto para outro artigo, mas, por ora, podemos dizer que todos os elementos têm relação com proibições legais sobre partes do corpo que não podiam ser exibidas, sob pena de coibições e até mesmo prisão. Essas leis, muitas ainda em vigor, variam de Estado para Estado nos EUA. No Brasil, em princípio, somos livres para exibir quaisquer partes do corpo em performance, ainda que haja proibições e tabus não ditos.
[9] Do original Elvira: Mistress of the Dark (1988, dirigido por James Signorelli). Um clássico das tardes na televisão brasileira nos anos de 1990, estrelado pela performer Cassandra Perterson.
[10] O documentário Divinas Divas (2017) dirigido por Leandra Leal, retrata muito bem essa dualidade da vida de estrelas dos palcos dos anos 1960 e 1970.
[11] Ver o documentário sobre o grupo: “Dzi Croquettes” – Direção de Tatiana Issa e Raphael Alvarez (Brasil, 2010).