O Verão Arte Contemporânea 2016 já começou e, como tem feito nesses dez anos de atuação sobre a cena artística de Belo Horizonte, apresenta ao público uma curadoria de trabalhos de pesquisa em diversas linguagens. Abaixo, destacamos nossas indicações da cena teatral.
Confira aqui informações detalhadas sobre essas e outras apresentações da programação do festival.
JANEIRO
“Ignorância” (Quatroloscinco Teatro do Comum) | Quarta a domingo, até 17 de janeiro
Por que ver? Com dramaturgia própria, o grupo coloca em questão as falhas de uma humanidade que se concebe como racional, civilizada e evoluída. O objeto cadeira surge como síntese simbólica que permite uma série de analogias a respeito dos modos como nos apropriamos do mundo, apontando para um processo de desenvolvimento que tem sua faceta utilitária e democrática, mas também persegue privilégios e distinções que produzem uma hierarquização entre sujeitos, compondo uma elite econômica, intelectual e/ou cultural. O melhor do texto – e da montagem – se “personifica” nas conexões que o leitor/espectador precisa executar para estabelecer a tessitura proposta por ambas as linguagens, ou seja, a dramatúrgica e a espetacular. Leias as críticas de Luciana Romagnolli e Marcos Alexandre.
“Rosa Choque” (Coletivo os Conectores) | Quinta a domingo, até 17 de janeiro
Por que ver? A atriz Cris Moreira e o ator Guilherme Théo expõem em cena mecanismos de perpetuação da desigualdade entre os gêneros e situações de violência contra a mulher, invertendo e subvertendo comportamentos naturalizados, de modo a convidar o espectador a um deslocamento do olhar. Com direção de Cida Fallabela e dramaturgia assinada por Assis Benevenuto e Marcos Coletta, o espetáculo conjuga momentos ficcionais e documentais com a força do relato pessoal, e abre-se também à perspectiva masculina, sugerindo que para combater o machismo é preciso também “queimar cuecas”.
“Real – Teatro de Revista Política” (Espanca!) | 21 a 24 de janeiro
Por que ver? O grupo cria representações cênicas para quatro fatos reais contundentes (o linchamento de um mulher; o atropelamento de um ciclista; uma greve de garis; e uma chacina no Complexo da Maré), unindo a força concreta desses acontecimentos a aspectos universais da tragédia humana, como a impossibilidade da explicação da violência e o questionamento das formas de justiça concebíveis, e com o olhar voltado às camadas sociais desfavorecidas. Assim, o Espanca! reconfigura o teatro político contemporâneo e encontra novos direcionamentos artísticos, apropriados às inquietações da sua formação atual e ao contexto presente do país.
4º Janela de Dramaturgia | 23 e 24 de janeiro
Por que ver? O projeto tem sido responsável por fomentar a produção e a experimentação dramatúrgica na cidade especialmente entre jovens artistas, grande parte deles cuja experiência teatral maior vem do trabalho como atores/atrizes. Nesses dois dias, serão lidos os textos de Marcos Coletta (“Origami“), Henrique Vertchenko (“Massa Sonora de Sujeitos em Movimento nº1“), Julia Branco (“Exercício para o Fracasso”), apresentados ao longo de 2015, e Raysner de Paula (“A Menina de Lá“), de 2014. Leia as críticas nos links sobre os títulos.
“Migrações do Tennessee” (Companhia Absurda) | 27 a 31 de janeiro
Por que ver? Tennessee Williams escreveu alguns dos maiores clássicos da dramaturgia, entre eles “A Margem da Vida” e “Um Bonde Chamado Desejo”. A dramaturgia de Eid Ribeiro entrelaça personagens das principais obras do autor, incluindo seus poemas, à vida real do autor americano, em uma atmosfera underground e decadente do início do século passado. Além de ser um belo cartão de visitas para o universo do escritor, já que o espetáculo evidencia alguns dos principais traços e temas de sua escrita, vale a pena conferir o minucioso trabalho de construção dos personagens feito pelo elenco sob a direção de Eid Ribeiro.
“Clínica do Sono” + “Controle de Estoque” (TAZ) | 28 a 31 de janeiro
Por que ver? Os dois espetáculos, escritos e dirigidos por Daniel Toledo (um dos editores do “Horizonte da Cena”), encerram a Trilogia do Trabalho, iniciada com “Fábrica de Nuvens”. Nessa trilogia, o convívio em ambientes de trabalho é problematizado com humor, em tramas que incorporam ainda outras questões urgentes dos tempos atuais, relativas à ecologia humana, desigualdade e exploração. As criações do coletivo TAZ têm se notabilizado por uma dramaturgia que inclui o espectador, fazendo com que ele se coloque em relação à situação ficcional, aproximando o absurdo da cena com a crueza da realidade que vivemos.
FEVEREIRO
“Calor na Bacurinha” (Bacurinhas) | 1º e 3 a 5 de fevereiro
Por que ver? Num momento em que as questões feministas aparecem com força na cena teatral belo-horizontina, o coletivo Bacurinhas faz o espetáculo mais empoderador. Investe na potência da performance dos corpos, libertos das amarras de códigos de apresentação restritivos do comportamento da mulher na sociedade, unindo o festivo ao político. Sob a direção de Marina Viana, o trabalho (que estreou como cena curta) ganhou em interseccionalidade e discurso, acolhendo (em distintos graus) especificidades relativas ao corpo da negra e da trans. Leia a crítica de Joyce Athiê.