por Luciana Romagnolli*
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“Como a Gente Gosta”. Foto da Mimese Produtora. |
por Luciana Romagnolli*
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“Sinfonia Sonho”. |

*Crítica originalmente publicada no site do Festival Nacional de Teatro de Presidente Prudente em setembro de 2012.
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“A Casa” |

*Crítica originalmente publicada no site do Festival Nacional de Teatro de Presidente Prudente em setembro de 2012.
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“9 Mentiras sobre a Verdade”, do Teatro Líquido (RS). |
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“9 Mentiras sobre a Verdade”. Foto de João Rocha. |
Lara atua no centro desse jogo metalinguístico com o teatro e o cinema. O primeiro, num ato falho que inverte os sentidos de mentira e verdade. A sétima arte, à sua vez, materializa o impulso de ficcionalizar a vida e transcender seus limites para embelezar um cotidiano de expectativas frustradas, em referências significativas a filmes como “A Rosa Púrpura do Cairo” e “Thelma e Louise”. O aparato audiovisual do espetáculo evidencia recursos impossíveis na realidade diária: o corte, a luz capaz de mudar o cenário, a concretização do que se sonha.
*Crítica de espetáculo originalmente publicada no site do Festival Nacional de Teatro de Presidente Prudente, em setembro de 2012.
por Luciana Romagnolli*
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“Cinza”. |
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“Cinza”. Foto de Cynthia Oliveira. |
Contudo, as escolhas visuais impedem que esse procedimento seja colhido com maior clareza pelo olhar do público. Distinguir as formas torna-se uma dificuldade decorrente da opção pelo papel-jornal como substância de toda cenografia e figurino. Por mais que o material dê unidade e faça sentido dentro do universo proposto, em certos momentos não se pode reconhecer os objetos nem os limites dos corpos da manipuladora e do boneco. Tal confusão bem poderia ser um efeito a somar-se ao embaralhamento dos planos animado e inanimado, mas, em vez disso, atua como um ruído, borrando o delineio da gestualidade do boneco, de modo a ocasionalmente quebrar a ilusão pretendida.
* Crítica de espetáculo originalmente publicada no site do Festival Nacional de Teatro de Presidente Prudente em setembro de 2012.
por Luciana Romagnolli*
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“Ifigênia”. Foto de João Falcão. No Teatro Municipal de Presidente Prudente, infelizmente, não havia toda essa amplitude de espaço. Mas o espetáculo vive bem mais compactado. |
por Luciana Romagnolli
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“Circo Negro”. |
Enquanto o Espanca! se reencontra no drama familiar borrado pelo absurdo de “O Líquido Tátil”, que encerra temporada hoje em BH, a Cia Senhas avança em sua própria jornada com “Circo Negro”, um espetáculo que se constitui como um desafio formal e estético ao qual a diretora Sueli Araújo responde com maturidade criativa. Como ouvi de um crítico paulista ontem, este é o trabalho ideal para que a companhia curitibana rompa a timidez e ultrapasse as fronteiras paranaenses. Concordo plenamente. Está mais do que na hora de mostrar-se a outros públicos.
“Circo Negro” (1996) é um texto-manifesto de Daniel Veronese para seu então grupo El Periférico de Objetos. Segundo conta, sua preocupação era a “possibilidade de discernir publicamente se para representar a morte era preferível usar um ator ou um boneco”. Diz também que a peça “apresentava inumeráveis combates corpo a corpo de atores com seus bonecos: a luta por um lugar privilegiado na cena. Uma indagação sobre o dominador x o dominado, sobre a exposição dos múltiplos artifícios do fenômeno teatral (antes de entrar no verdadeiro corpo do circo negro, um ator introduz uma irônica lista de conselhos para poder atuar com propriedade)”.
Os bonecos, contudo, não interessam à Cia Senhas. Foram, portanto, excluídos da cena, à exceção de uma boneca (vista na imagem acima, entre as atrizes Ciliane Vendrusculo e Greice Barros). O que move o grupo nesta obra de Veronese é a observação crua da condição do atuante. Crua, mas não cega de sua beleza: afinal, como se diz em cena, o ator é o único capaz de morrer e voltar.
Como ponto de partida, o texto traz situações aparentemente impossíveis e sem maiores explicações sobre o modo de realizá-las, tal como “Carlota converte manipulador em frango”. Diante disso, a diretora Sueli Araújo fez suas escolhas com liberdade. “A gente queria dar a nossa cara para esse conteúdo. Queria dialogar com o Daniel sem hierarquia, respeitando ele e a nossa identidade. O texto é seco, árido. A atmosfera, a gente que foi criando. Tivemos que inventar todos os ‘faça isso'”, diz ela.
Em suas mãos, a crueza original ganhou novos tons que, mesmo sem essa intenção prévia, valorizaram o humor negro, provocando risos sarcásticos na plateia. “O espetáculo acaba tendo humor, não por nossa vontade explícita. Mas é um humor no limite dessa crueldade”.
Assim com o diretor argentino, Sueli dá atenção às trocas de olhares entre os atores em cena, sempre em triangulação com a plateia. “Para nós, é fundamental criar essa ligação com o público”, diz a diretora.
Para o ator Luiz Bertazzo, “Circo Negro” inaugura algumas questões para a Cia Senhas. “O que é fazer o realismo dentro dessa configuração de companhia, nessa linguagem em que a gente prioriza a relação com o público e o trabalho com o corpo?”, indaga. O realismo a que ele se refere aparece infiltrado em meio a um contexto maior e mais complexo. “Brincamos com esse transbordamento das emoções na cena das russas”, cita como exemplo.
Entre os temas que o espetáculo atinge, está o caráter de exposição da atividade do ator, revelado sobretudo na sequência em que Greice é manipulada após ser submetida à hipnose e, ao acordar, se vinga de seus colegas. Peitos e bundas ficam em exibição. Porém, não é somente a nudez que os expõe, como fica claro em outras cenas relativas à recompensa financeira e às palmas requeridas mas nem sempre obtidas.
Bertazzo conta que demorou a entender que era preciso não exibir o corpo “de mentira”, ou seja, tentando fazer outras coisas que distraíssem do gesto, mas, sim, expor-se sem subterfúgios.
Para Greice, o impacto foi distinto no campo coletivo e pessoal. “Enquanto coletivo, sempre existiu essa exposição. É uma faca de dois gumes: quando o público entra, o espetáculo se constrói nessa exposição e nesse jogo. Meu trabalho é ficar na frente de vocês e isso é corporificado”, diz. E continua: “Individualmente, que porra é esse trabalho de atuar! Tenho 32 anos, dois filhos, meu peito não tem silicone e eu estou com parceiros construindo uma história para vocês. Se isso não der certo, quem vai se ferrar é a gente. Para mim, é disso que esse texto está falando”.
Tais questões desembocam num grau de risco calculado assumido pelos atores diante do público. Um momento-síntese é quando oferecem tomates aos espectadores: um risco construído que evidencia o risco real.
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“Ensaio sobre Frágeis”. |
Em tempo: Nesse campo da exposição e do risco, são notáveis as semelhanças entre “Circo Negro” e “Ensaio sobre Frágeis”, espetáculo mexicano apresentado pelo diretor Alberto Villareal no Mirada – Festival Ibero-Americano de Teatro de Santos. Os cinco atores exibem ao público suas fraquezas e criam estratégias para ressaltá-las, como incitar os espectadores a votarem em qual ator deve ser expulso do teatro e qual deve levar tomatadas – o que, de fato, se realiza.
Trata-se de uma obra instigante, que desestabiliza e intriga o público em muitos momentos. A ressalva é que o grupo não constrói uma verdadeira cumplicidade com a plateia, até pelo teor de violência dos pedidos que a ela dirige, mas, mesmo assim, ao fim tenta estabelecer uma sessão terapêutica de confissões por parte dos espectadores, levando-os a uma comoção induzida.
* “Circo Negro” está em cartaz em Curitiba até o dia 30 de setembro. Veja horários aqui.
por Luciana Eastwood Romagnolli
Setembro foi o mês de Daniel Veronese no Brasil. Ao mesmo tempo, uma companhia mineira e outra curitibana colocaram em cena dois textos antigos do dramaturgo e diretor argentino.
“O Líquido Tátil”, em montagem do Espanca!, faz suas últimas apresentações da temporada belo-horizontina hoje e amanhã, às 20h (com possibilidade de sessões extras às 21h30 se os ingressos esgotarem), em sua sede. “Circo Negro”, com a Cia Senhas, se despede no próximo fim de semana do palco da Cia dos Palhaços, onde está em cartaz em Curitiba.
As coincidências entre os espetáculos só não são maiores do que as diferenças, decorrentes de uma cisão na própria obra do argentino. De um lado, o Espanca!, dirigido por Daniel Veronese neste projeto, tem em mãos um drama familiar inspirado no universo tchekhoviano, que viria a ser o predecessor das releituras que o diretor recentemente fez de peças do autor russo (a mais célebre entre elas, “Espía a una Mujer que Se Mata”, adaptada de “Tio Vânia”). Do outro, a Cia Senhas opta por um texto-manifesto que despreza o realismo em favor de expressões mais críticas e livres do humano e do artístico, mediadas pelo humor negro.
Tátil. Se olhado de perto, contudo, mesmo o aparente realismo do teatro praticado por Veronese desde que se distanciou do grupo Periférico de Objetos guarda sinais de estranheza. Veio dessa característica a identificação do espanca! com o elemento surreal presente nos trabalhos do grupo desde “Por Elise” (2005).
“Desde El Periférico de Objetos, acompanho a trajetória do Veronese. Já vi vários espetáculos dele de naturezas muito distintas. No caso do Periférico, existia uma cena mais expressionista baseada na construção de imagens fortes. Na produção atual, adaptações de clássicos muito focadas na direção de atores. Ele é um artista em transformação. O que nos levou a convidá-lo foi a identificação com a estranheza dessa escrita e da produção dele. Uma estranheza que, de alguma forma, é um ponto de contato com as peças do Espanca!, tão surreias”, diz Grace Passô, atriz, diretora e dramaturga do Espanca!.
“Quando fomos construir a peça no estúdio do Veronese, existia da minha parte uma expectativa em relação ao que já li a respeito da direção de atores dele e de fato foi uma das experiências mais fortes nesse processo. A sensação que tenho é que ele sempre corta qualquer viagem excessivamente psicológica do personagem e propõe saltos radicais de um estado para o outro e de uma cena para a outra. Nesse sentido, é uma condução muito pouco realista”, diz Grace.
por Luciana Eastwood Romagnolli