por Luciana Romagnolli
“NomePRÓPRIO”. Foto de Cayo Vieira. |
Com “NomePRÓPRIO”, a dramaturga Nana Rodrigues e o encenador Gerson de Andrade experimentam como instalar um modo de vida distinto no teatro, com signos que remetem às fabulações do nascimento e da morte, da mãe e do pai, do feminino e do masculino, mas permanecem, em última instância, indecidíveis.
Instável entre o surrealismo e o abstrato, o texto opera deslocamentos que ressignificam inesperadamente – ou dessignificam – os sentidos que ameaçavam se formar. Minam a semântica num esforço por tangenciar o indizível do estar vivo e desestabilizar as categorias com as quais se tenta compreendê-lo.
Como em “Ela”, de Raquel Schaedler, a peça indica a presença de um homem e uma mulher. Contudo essa distinção de identidades sexuais não chega a discernir dois indivíduos. É tratada num campo existencial, por modos de subjetivação e de estar fora de si, em permanente trânsito. Uma dualidade de gêneros esquizofrênica, que se une indistinta para tornar a se diferenciar.
Nesse borramento dos contornos, são mínimos os referenciais fornecidos ao espectador, entregue à deriva e à obscuridade. A encenação explode em uma sonoridade ruidosa, que evoca o informe, imenso e incognoscível do universo, ampliando sinestesicamente a percepção das falas e ações.
A atuação, porém, não atinge a dimensão de estranhamento dos sons e das frases. Embora se perceba um trabalho sobre as emissões vocais, sem uma qualidade de invocação as falas não realizam a performatividade possível do texto. A coreografia de oposições e aproximações entre os dois corpos dos atores, sobre plataformas baixas, tampouco evidencia as intensidades e os deslocamentos forjados no nível da fala.
Afim aos princípios que conformaram as dramáticas do transumano, “NomePRÓPRIO” segue a ambição radical de inventar arquiteturas linguísticas e formas outras de experienciar a existência, ainda como um exercício de imperfeições, que não realiza a plenitude do seu projeto estético. Enquanto seu principal efeito é o de rompimento com os padrões conhecidos, as proposições que traz em seu lugar ainda não estabelecem um sistema forte de relações formais nem de produção de intensidades.
*Crítica originalmente publicada no site do Núcleo de Dramaturgia do Sesi-PR em dezembro/2012.