– Por Soraya Belusi –
Neste ano, a Campanha de Popularização consolida uma significativa parceria com os grupos de pesquisa da cidade, o que diversifica e fortalece sua programação. Faço aqui uma lista pessoal de montagens a que assisti em anos anteriores e gostaria de rever, além de outras que perdi a oportunidade de acompanhar na temporada regular e tentarei acompanhar até março.
PS: como estou em dívida com a produção de dança contemporânea da cidade, não escalarei aqui meus escolhidos na Campanha porque tentarei assistir ao máximo possível de espetáculos.
PS 2: Admito minha total ignorância quanto à cena do teatro infantil, outra falha que pretendo resolver neste ano. Por isso, não farei indicações.
JÁ VI, TENTAREI REVER E INDICO:
1- “Clínica do Sono” e “Controle de Estoque”: com direção e dramaturgia de Daniel Toledo, os dois espetáculos encerram uma trilogia com a temática das relações de trabalho. Ambas são comédias que mostram que o gênero não deve ser subestimado e que pode ser uma potente ferramenta de reflexão. Além disso, outro destaque da montagem é o fato de incluir o espectador como personagem da ação na cena, estabelecendo um diálogo direto, mas não invasivo, entre público e plateia.
2 – “Danação”: Vale ver pelo encontro de gerações e estilos dos artistas envolvidos: o texto poético do talentoso Raysner de Paula, o amplo repertório atoral de Eduardo Moreira, do Grupo Galpão, e a direção com toques contemporâneos de Marcelo Castro, do Grupo Espanca!, e Mariana Maioline.
3- “Migrações de Tennessee”: Além das qualidades dramatúrgicas e de encenação, em que a vida e a obra de Tennessee Williams se fundem em uma só coisa, o que me fascina mesmo nesta direção de Eid Ribeiro é o primor dos detalhes no trabalho dos atores, uma condução minuciosa do espectador pelo universo do autor ‘maldito’.
4- “O Deszerto”: Com direção da chilena Sara Rojo, o espetáculo aborda o período ditatorial que seu país enfrentou nos anos 1960/1970. Sara não apenas viveu esse período na pele, como sempre me instiga a refletir sobre as diferenças com que brasileiros e outros latino-americanos lidam com esta tragédia que assolou nossos países.
5 – “Real”: Na minha opinião, este é um trabalho que todos os brasileiros deveriam assistir. Em meio às recentes notícias de espancamento de ambulante, massacre nas penitenciárias e outras atrocidades cotidianas, “Real”, do Espanca!, se atualiza sem nenhum esforço. O espetáculo, além de partir de fatos reais para criar ficções de extrema singularidade, consegue unir sofisticação teatral a um discurso facilmente assimilável por todos os tipos de espectador. Da categoria imperdível. Mesmo.
6 – “Madame Satã”: Há um outro fenômeno crescente e significativo na cidade que diz respeito ao protagonismo de artistas negros na cena da cidade. E um dos exemplos da qualidade e da importância desse movimento é “Madame Satã”: um musical com extrema qualidade técnica e artística, que coloca em cena a história de um importante personagem que traz consigo questões como racismo, homofobia e descriminação em geral.
7- “Rosa Choque”: E se os papéis se invertessem? É a partir desta premissa que “Rosa Choque” problematiza as questões de gênero em cena, assim como a violência vivida pela mulher na sociedade brasileira.
8 – “Prazer” e “Urgente”: Os dois trabalhos da Cia Luna Lunera são de excelência. “Prazer” divide opiniões pelo seu viés ingênuo e otimista, o que para mim é seu maior trunfo num mundo em que o pessimismo parece ser imperativo. Uma verdadeira catarse emocional. Já “Urgente” evidencia em sua dramaturgia as relações com o tempo, com aquilo que deixamos de fazer.
9 – “Amanda”: Ver Rita Clemente em cena é um luxo. E isso já seria motivo suficiente para assistir ao espetáculo. Mas tem mais: a dramaturgia de Jô Bilac é de grande qualidade, ainda mais executada pela atriz que parece ter um repertório sem fim.
10 – “De Tempos Somos”: Uma versão despretensiosa do Grupo Galpão, em que os atores se mostram divertindo em cena, reunindo na mesma tessitura textos diversos e canções que marcaram as montagens do grupo.
AINDA NÃO VI, MAS VEREI:
1 – “As Meninas de Madame Mimi”: Nunca escondi minhas críticas às comédias que apenas reforçam estereótipos e preconceitos e que permanecem anos e anos em cartaz sem acrescentar muita coisa à cena teatral mineira. Por isso mesmo, é meu dever acompanhar obras do gênero que entram em cartaz e que possuem uma equipe de inquestionável qualidade por trás. É o caso deste trabalho que traz dramaturgia de Rogério Falabella, um craque do estilo, e Wilma Henriques no papel de protagonista.
2 – “Simplesmente Marta”: Não assisti às intervenções da personagem Marta no Festival de Cenas Curtas do ano passado, mas a ideia de ver Cleo Magalhães em cena, dirigido por Henrique Limadre, num espetáculo cômico, já me seduz.
3 – “Boa Noite Cinderela”: Se é para falar das comédias, não dá para deixar de fora da minha lista a montagem de estreia de Amauri Reis em um monólogo. Em outra oportunidade, assisti a “Vexame”, peça que tinha, como esta, a direção de Inês Peixoto, e confesso que adorei. O ator tem um timing incrível, o texto é de Carlos Nunes (outro craque no gênero) e a direção é novamente de Inês Peixoto, do Galpão.
4- “Rose, a Doméstica do Brasil”: Não é de hoje que escuto elogios rasgados e seguros ao trabalho de Lindsay Paulino, que alcançou reconhecimento nacional com esta personagem. Cobrirei essa lacuna agora e depois confirmo se os comentários elogiosos são merecidos.
5 – “A Paixão segundo Shakespeare”: Sempre que possível, tento acompanhar a produção de Pedro Paulo Cava, diretor que tem um público assíduo na cidade e que teve enorme importância na cena teatral mineira, inclusive no quesito experimentação. Neste trabalho, ele se une a Jota Dângelo, um mestre, para abordar a paixão em diversas obras do bardo inglês.
6- “Estranha Civilização”: Sou fã declarada do trabalho de ator que embasa a produção da Cia. Absurda, que, nesta montagem, é dirigida por Lydia del Pichia, do Grupo Galpão. A temática da violência diária e cotidiana também me interessa.
7 – “Freddy Rock Star” e “Marilyn Monroe.Doc”: Juarez Dias dirige as duas montagens, que se utilizam do teatro documentário como linguagem. Além do atrativo das biografias de personagens icônicos da cultura pop, o próprio formato documentário merece ser acompanhado, já que é um dos recursos mais utilizados na atual cena teatral brasileira.
8 – “Ensaio para senhora azul”: O solo de Kelly Crifer é mais um exemplar que traz para a cena questões relativas ao lugar da mulher no mundo contemporâneo com uma linguagem performativa.
9 – “Rua das Camélias”: Além da temática sobre a prostituição, poucas vezes abordada na cena local, o trabalho realiza uma ação de site-specific em um hotel abandonado do centro da cidade, ressignificando o espaço da encenação.
10 – “Um Interlúdio – A Morte e a Donzela”: Todos os trabalhos a que assisti, e não foram poucos, assinados por Wilson Oliveira, eram de qualidade indiscutível. Wilsinho é exímio diretor de atores numa pegada realista e tem ao seu lado três craques: Cristiane Antuña, Gustavo Werneck e Nivaldo Pedrosa.
11 – “Ser – Experimento para Tempos Sombrios” – o espetáculo tem todos os ingredientes para me levar ao teatro: uma equipe que reúne um dos artistas mais interessantes da cena belo-horizontina, Rafael Lucas Bacelar, e a direção sempre crítica e inteligente de Alexandre de Sena, somados ao debate performativo de questões que assolam o Brasil.
Soraya… realmente seria uma boa fazer algumas indicações de teatro para crianças, já que tem uma gama de espetáculos puramente comerciais e de péssima qualidade artística.
Dentre os que estão em cartaz pela 43ª Campanha de Popularização, ainda não vi, mas pretendo assistir, a montagem de “A bela adormecida”, do Giramundo (foi a primeira montagem do grupo, em 1971). Também quero ver “A festa do pijama”, do Grupo Oriundo, “A viagem de um barquinho”, do Coletivo do Riso, “Memórias de um quintal”, da Insensata Cia. de Teatro, “O que você vai ser quando crescer”, da Cyntilante Produções e “O Rei Leão” da Copas Produção.
Já assisti e indico: “Na Roda”, do Grupo Maria Cutia!