por Soraya Belusi ::
O discurso é de grandiosidade. Para anunciar a edição comemorativa dos 20 anos do Festival Internacional de Teatro Palco & Rua de Belo Horizonte, a diretoria da Fundação Municipal de Cultura e os curadores do evento reuniram a imprensa na manhã de hoje para divulgar a programação de espetáculos. O que se ressaltou é o desejo de ser o maior FIT que a cidade já viu. Para tanto, ampliou-se a duração, que agora será de 20 dias, e o número de atrações na grade, que soma mais de 50 peças. Já confirmadas, são 17 atrações internacionais, 13 nacionais e 25 locais (veja lista dos espetáculos no fim do texto).
Os ingressos custarão R$ 20 (inteira) e começam a ser vendidos no próximo dia 28 de abril, pela internet e também no posto da Belotur, da rua da Bahia. Não haverá venda de pacotes. A tradicional abertura na rua não acontecerá nesta edição, que se inicia em 6 de maio e vai até o dia 25 do mesmo mês. Caberá à Cia Luna Lunera e seu “Prazer” abrir o evento, assim como inaugurar o Teatro Francisco Nunes, que finalmente será entregue para ocupação dos grupos da cidade após a realização do FIT-BH — assim como o Teatro Marília, que também passa por processo de reforma. Para encerrar a programação, o Galpão apresentará “Os Gigantes da Montanha”.
Os curadores – Jefferson da Fonseca, Geraldo Peninha e Leri Faria, este de atividades especiais – ressaltaram o foco no critério da coexistência, menos pautados nas relevâncias estéticas ou experimentais dos espetáculos, que de alguma maneira pautavam as escolhas curatoriais anteriores, em prol de trabalhos que “dialogassem com o cidadão e não apenas com os iniciados”, justifica da Fonseca. Neste sentido, buscou-se valorizar trabalhos que refletissem a realidade dos seus países de origem, “o momento que o teatro estava naquele lugar que visitamos”, explica Peninha.
Imagem de “Hamlet”, que o Berliner Ensemble traz ao FIT-BH 2014 (Foto Berliner Ensemble/divulgação FIT-BH) |
Já se destacam na programação as vindas dos franceses da trupe Generik Vapeur, que fizeram tremer a capital mineira nas duas vezes anteriores que estiveram por aqui, em 1994 e 1997, e os alemães do Berliner Ensemble. O grupo fundado por Bertolt Brecht, e que segue ativo na Alemanha, traz a BH sua versão de “Hamlet”. Aliás, alemães, ao lado de franceses, encabeçam a programação internacional, já que neste ano se realiza o Ano da Alemanha no Brasil e, através de parcerias com a prefeitura de Berlim, mais duas companhias do país desembarcam por aqui com os espetáculos “I Call My Brothers” e “The so-called outside means nothing to me” – há ainda mais um espetáculo que pode entrar na programação, mas ainda não está confirmado. Da França, serão apresentados ainda “Augenblick Dream” e “Fragmento 3 – Aproximacion a la ideia de desconfianza”.
Outros trabalhos internacionais já chegam com algumas boas referências: é o caso do português “1325”, uma das surpresas positivas da Mostra Fringe do Festival de Curitiba no ano passado, “Materia Prima”, da Cia. La Tristura, da Espanha, com boa repercussão em outros festivais pelo Brasil, e “Emilia”, trabalho do Timbre4, grupo argentino que também já é conhecido do espectador belo-horizontino de edições passadas do evento. Além destes, completam a programação trabalhos de Cuba, Austrália, Portugal e Suíça.
Questionáveis, no entanto, são as inclusões de “Memórias em Tempos Líquidos” e “La Cena” como produções internacionais, independentemente de onde vêm os recursos para sua realização. No primeiro caso, trata-se de um trabalho eminentemente local, embora tenha em seu elenco a uruguaia Jimena Castiglioni, já totalmente incorporada à cena mineira, inclusive trabalhando diretamente com o Grupo Galpão. Além disso, o espetáculo cumpriu temporada no ano passado na cidade e tem toda a sua equipe composta por artistas de Belo Horizonte. Assim, ser apresentado como uma coprodução internacional soa um tanto demais. Caso similar o de “La Cena”, com texto, direção e atuação de Anita Mosca, embora italiana, radicada por essas bandas há bom tempo.
Em âmbito nacional, circularam por outros festivais “Cine Monstro”, de Enrique Diaz, que realiza notável trabalho de ator, e “O Homem Travesseiro”, este, embora com elenco também de grande qualidade, teve menos repercussão por onde circulou. Também relevante é a trajetória do Teatro Popular União e Olho Vivo, de São Paulo, que traz a BH “A Cobra Vai Fumar – Uma Estória da FEB”, que será apresentado na rua, assim como “A Pereira da Tia Miséria”, do interior do Paraná, um dos destaques do Fringe deste ano. Também com trajetória reconhecida, embora um tanto irregular, vem à cidade Os Satyros, com o espetáculo “Adormecidos”. As outras atrações surpreendem por não se restringirem aos grupos já reconhecidos nacionalmente, o que pode trazer grandes surpresas – agradáveis ou não. De qualquer maneira, é uma oportunidade de se conhecer trabalhos de coletivos de Santa Catarina, Recife, São Paulo e Rio de Janeiro.
A grande aposta desta edição parece ser a internacionalização dos trabalhos locais. Isso, segundo a equipe do evento, justificaria o grande número de atrações da capital na grade de programação. Para alcançar esse objetivo, serão convidados programadores do Brasil e de outros países para conferir as apresentações dos grupos mineiros, que estarão concentradas na primeira metade do FIT. Confirmados até agora estão os programadores do Núcleo de Festivais (que já circulam normalmente pelos eventos que integram o núcleo), além de curadores de festivais na França, Alemanha, Espanha, Portugal e Argentina. Outro ponto destacado pelos curadores é a programação voltada para o público infanto-juvenil, que terá sete espetáculos.
“O Líquido Tátil”, do Espanca!, é um dos espetáculos locais na programação (Foto de Guto Muniz) |
Os problemas relativos aos pagamentos ainda não efetuados da edição de 2012 do evento tomaram grande parte da coletiva. Afinal, às vésperas de uma nova edição, grande parte dos fornecedores ainda não recebeu o valor relativo aos trabalhos prestados anteriormente. Segundo o presidente da FMC, Leônidas Oliveira, a dívida está sendo avaliada pela auditoria da Prefeitura e, assim que autorizado, o pagamento será realizado. Porém, não há previsão para que esse imbróglio seja resolvido antes do início desta edição. Questionado se o mesmo atraso poderia acontecer nesta edição, o gestor da Fundação afirmou que tudo está sendo feito dentro do orçamento, que já atingiu R$ 7 milhões, sendo R$ 6 milhões de investimento direto e R$ 1 milhão em parcerias.
Optou-se ainda por descentralizar as ações formativas, que acontecerão fora da região Centro-Sul em parceria com grupos (amadores e profissionais) das regionais da capital. Porém, maiores detalhes sobre cada atividade não foram divulgados. Ainda não há também um posicionamento sobre o Ponto de Encontro, que costumava ser realizado no parque municipal. Segundo informações do coordenador do FIT, Cássio Pinheiro, ainda estão sendo avaliadas possibilidades para que aconteça em outro lugar e com outro formato.
LISTA DE ESPETÁCULOS DO FIT-BH 2014
INTERNACIONAIS:
“1325” – Peripécia Teatro (Portugal)
“Augenblick Dream” – Eolie Songe (França)
“Emilia” – Timbre4 (Argentina)
“The so-called outside means nothing to me” – Maxim Gorki Theater Berlin (Alemanha)
“Fíchenla si pueden” – de Carlos Celdrán (Cuba)
“Frag#3 Aproximacion a la idea de desconfianza” – Evelyn B. / PitouStrash Company (França)
“Glory Box” – Finucane & Smith (Austrália)
“Hamlet” – Berliner Ensemble (Alemanha)
“I call my brothers” – Ballhaus Naunynstraße Berlin (Alemanha)
“Jamais 203” – Generick Vapeur (França)
“Kalabazi” – Tita8lou (Suiça)
“La Cena” – Anita Mosca (Itália)
“Matéria Prima” – La Tristura (Espanha)
“Memórias em Tempos Líquidos” – Dormentes (Brasil-Uruguai)
“Orsini Marionetes” – Orsini (Argentina)
“Rapsodia para el mulo” – El Ciervo Encantado (Cuba)
“Concertos para Bebês” – Musicalmente (Portugal)
NACIONAIS:
“A Cobra vai fumar – Uma Estória da FEB” – Teatro Popular União e Olho Vivo (SP)
“À Distância: Lado A / Lado B” – Dearaque Cia. de Teatro (SC)
“A Pereira da Tia Miséria” – Núcleo Ás de Paus (Londrina – PR)
“Adormecidos” – Os Satyros (SP)
“As Raízes do Mineiro Pau e do Boi Pintadinho” – Cia Folclórica Boi de Miracema (RJ)
“Café?” – Cia. Efêmera (SP)
“Cine Monstro” – Enrique Diaz (RJ)
“Duas Mulheres em Preto e Branco” – Remo Produções Artísticas (PE)
“O Homem Travesseiro” – Cia Teatro Esplendor (RJ)
“Sabiás do Sertão” – Cia Cênica (São José do Rio Preto – SP)
“Era uma vez… Grimm” (versões infantil e adulto) – Belazarte Realizações Artísticas (RJ)
“Salada Mista” – Cia. 2 em Cena de Teatro, Circo e Dança (PE)
LOCAIS CONVIDADOS:
“De Banda para a Lua” – Armatrux
“John & Joe” – Grupo Trama (Contagem)
“Oratório, a saga de Dom Quixote” – Cia Burlantins (BH)
“Os Gigantes da Montanha” – Grupo Galpão (BH)
“Por Pouco” – Cangaral Produções Artísticas (BH)
“Prazer” – Cia Luna Lunera (BH)
LOCAIS SELECIONADOS:
“A noite devora seus filhos” – Paisagens Poéticas (BH)
“Acontecimento em Vila Feliz” – Cia. Pierrot Lunar (BH)
“Aldebaran” – Grupo Oficcina Multimédia (BH)
“As Rosas do Jardim de Zula” – Zula Cia. de Teatro (BH)
“De Mala às Artes” – Cia Circunstância (BH)
“De nós dois.só” – Quik Cia de Dança (Nova Lima)
“… e peça que nos perdoe” – Fernando Barcellos e Lira Ribas (BH)
“Fábrica de Nuvens” – TAZ (BH)
“Get Out” – quatroloscinco (BH)
“Isso é para dor” – Primeira Campainha (BH)
“Klássico (com K)” – Mayombe Grupo de Teatro (BH)
“O Caboclo Zé Vigia” – Tirana Cia. de Teatro (BH)
“O Líquido Tátil” – Grupo Espanca! (BH)
“O Quadro de uma Família” – Pigmaleão Escultura que Mexe (BH)
“Órbita” – Cia Suspensa (BH)
“Para Se Tá Mal, ensaio de uma manifestação para poder poder” – Cóccix Cia. Teatral (BH)
“Pereiras = Festival de Idéias Brutas ep. 01 + Açougue dos Pereiras” – Marina Viana e Rodrigo Fidélis (BH)
“S/ título, óleo sobre tela” – Cia do Chá (BH)