por Luciana Romagnolli
“Blow me Up… ou… Sobre a Natureza dos Homens-Bomba”. Foto de Cayo Vieira. |
“Blow me Up…ou…Sobre a Natureza dos Homens-Bomba” cruza discursos desesperados de pessoas inábeis em lidar com o caótico, o frustrante e o imperfeito da vida, quando o que desejam é controle e garantia.
O homem, a mulher e a criança dividem o palco sem chegar a configurar uma família. Cada um carrega suas obsessões, manifestas em falas sustentadas por metáforas e concretizadas em objetos com os quais se ocupam – também detentores de uma função simbólica na encenação dirigida por Nika Braun.
O desvencilhamento familiar é, antes de tudo, uma escolha dramatúrgica. Tão assoberbados estão os três com suas angústias que se fecham em suas próprias cascas. O ovo – esse invólucro de proteção aparentemente perfeito – emerge como uma das muitas metáforas elaboradas pelo dramaturgo Max Reinert sugerindo estados emocionais. Elas se associam em possíveis conexões entre si, como a do homem-bomba com a bomba relógio e com um homem que pode explodir a qualquer momento.
Porém, os três atores não funcionarem como uma família no palco é também efeito das escolhas de direção, que não concretiza um vínculo entre eles no desenho de movimentos e na articulação das falas. Têm-se breves monólogos interrompidos e continuados, moldados pela estrutura de fragmentos e redundâncias do texto, e frágeis são as tentativas de fazê-los reverberar entre si no espaço da cena.
Há de se considerar o desafio que um texto como esse, sem ação nem conflito no sentido clássico, impõe a quem pretende encená-lo, quando toda ação que se tem é a das falas sobre o mundo. Mesmo a imobilidade poderia funcionar como solução cênica. Contudo, depende do rigor formal na construção dos corpos (estáticos ou moventes) e na modulação das vozes. A carência de tal rigor na direção de atores e no trato com o texto dificulta que as potencialidades criativas contidas em “Blow me Up” se realizem.
Rubia Romani é a atriz que melhor trabalha esse potencial – e, não à toa, a mais experiente em cena. A sobrecarga emocional incessante exigida dos atores encontra nela a habilidade de corporificar as emoções, dar-lhes carne. Uma presença e um domínio de atuação que o resto do elenco ainda não conquistou. O que limita a reverberação das falas, sobretudo nas transições de tempo e sentimentos inseridas nas partes finais do espetáculo, resultando pouco nítidas.
Outro aspecto a ser repensado é a relação com os espectadores. É certo que, ao adaptar o espetáculo para o palco do Teatro José Maria Santos, que estabelece uma relação frontal com o público, algumas opções precisaram ser feitas. Contudo, barrar o acesso a toda a área central da plateia para abrir espaço à projeção de imagens coloca o projetor em situação de prioridade sobre o espectador – relegado à visão enviesada das bordas das fileiras.
*Crítica originalmente publicada no site do Núcleo de Dramaturgia do Sesi-PR.